A humanidade já provou inúmeras vezes ser capas de cometer atos violentos e medonhos, seja essa a ação de uma pessoa ou coletiva. Somos uma espécie cruel, seja em relação a natureza, ou contra os nossos semelhantes.
O caso retratado nesta matéria é um destes eventos que tiram a nossa fé na humanidade. A jovem Junko Furuta foi raptada, passando mais de 40 dias nas mãos dos raptores (algumas fontes afiram que foram 40 dias, mas a maioria fala em 44 dias). Nesse período ela foi torturada, violentada e brutalmente assassinada por jovens da sua idade.
Esse assunto figurou em muitas matérias de blogs de terror e de assassinatos em anos passados, e hoje ele vem a fazer parte do nosso blog graças as sugestões de dois grandes apoiadores aqui do Noite Sinistra: o Elson Antonio Gomes e a Nayara Mastub.
Uma jovem exemplar
Nascida no dia 18 de janeiro de 1971, na cidade de Misato, no Japão, a jovem Junko Furuta não viveu o suficiente para que todos os seus momentos pelo menos tivessem um peso em meio as atrocidades que marcaram a sua curta existência.
Em 1988, aos 17 anos de idade, Junko estudava o seu último ano na Yashio-Minami High School, antes de se formar, e seguia uma rotina comum. Na escola, a garota era reconhecida como sendo bonita, inteligente e tímida. Por mais que fosse muito popular, ela nunca era vista em festas organizadas por colegas e amigos. Não consumia álcool ou drogas – muito diferente de boa parte dos demais estudantes. O seu dia-a-dia consistia em ir para escola e de lá seguir direto para o seu trabalho de meio período como garçonete.
Contudo, foi a infeliz coincidência de um momento e uma simples palavra que selaram o destino de Junko Furuta.
44 dias no inferno
Hiroshi Miyano era conhecido como o lado podre da escola onde Junko estudava e
também o grande valentão. Aos 18 anos, o jovem se gabava e era temido
por suas conexões com o Yakuza – uma famosa e altamente perigosa
organização criminosa internacional japonesa fundada no século XVII que
possui mais de meio milhão de membros no mundo todo.
“Não” foi a resposta que o garoto recebeu de Junko quando
essa rejeitou as suas investidas. De acordo com alguns colegas, Hiroshi
havia desenvolvido uma espécie de crush por ela e ficou furioso
com o que ouviu, ainda mais por nunca ser rejeitado por nenhuma garota –
mais por medo do que por desejo.
Algumas fontes afirmam que o interesse de Miyano em Furuta era de domínio de muitos jovens da escola. A própria vítima saberia do interesse do rapaz, mas nunca demonstrou corresponder ao interesse do jovem.
Miyano não deixaria a recusa da garota passar barato.
Violento e dono de uma conduta abusiva, no dia 25 de novembro de 1988, apenas alguns dias depois de ter sido desprezado por Junko, Hiroshi Miyano junto com o seu amigo Shinji Minato, de 16 anos, estavam rondando em um parque local do bairro onde costumavam atacar sexualmente as mulheres. Estupradores experimentes desde muito cedo, os dois eram conhecidos por possuírem um olhar clínico para detectar alvos fáceis.
E foi assim que, às 8h30 daquele dia de 1988, os dois identificaram Junko Furuta cruzando o caminho em sua bicicleta em direção ao trabalho. O plano foi armado rapidamente: Shinji chutou a bicicleta da garota à sua passagem, como uma maneira de derrubá-la e criar uma oportunidade para Hiroshi, que fingiu reprimir a atitude do amigo e ajudou Junko a se levantar. Ele prontamente se ofereceu para escoltá-la até o trabalho e ela acabou aceitando.
No meio do caminho, Hiroshi ameaçou matá-la se não o seguisse em silêncio. Eles chegaram em um armazém abandonado onde o garoto a estuprou enquanto a aterrorizava com as promessas de morte. De lá, levou-a para a casa de Shinji e convidou Jõ Ogura e Watanabe Yasushi, ambos de 17 anos, para que fizessem parte de todos os horrores que estavam por vir.
No dia 27 de novembro, 2 dias depois do seu desaparecimento, os pais de Junko entraram em contato com às autoridades para reportar o seu desaparecimento. Sabendo disso Hiroshi a obrigou a telefonar para os pais e dizer que havia fugido para a casa de amigos e que não retornaria mais, para deixarem de procurá-la.
Nada consegue ser comparado com o nível de bestialidade que Junko Furuta foi submetida durante os 44 dias que foi mantida em cativeiro naquele quarto imundo. Ao longo das repetidas sessões de sodomia e violência sexual até que sangrasse, ela chegou a ser pendurada nua no teto pelos pulsos e usada como um saco de pancadas pelos garotos. Amordaçada, eles a agrediram com halteres, a queimaram com cigarros, velas, introduziam lâmpadas ligadas, tesouras, barras de ferro e chegaram até a acender fogos de artifícios em sua vagina e ânus, causando graves queimaduras e rompimentos internos dos órgãos.
Amigos e outros membros do Yakuza foram convidados por Hiroshi para a espancarem e praticar orgias.
Eles deixavam Junko sem comer nada por vários dias, e quando sua refeição chegava, era forçada a comer baratas e a beber a sua própria urina. Amarrada dos pés à cabeça e pelada, a garota era largada do lado de fora da varanda durante dias frios de inverno.
Os criminosos derramaram cera quente em suas pálpebras, espetaram agulhas em seus seios e os mamilos foram arrancados com um alicate. Quando os captores passaram a lançar pesos de ferro em seu peito, ela perdeu o controle da bexiga e do intestino, tamanho era o dano interno.
Enquanto isso, os pais de Shinji Minato sabiam da monstruosidade que acontecia em baixo do teto deles, mas temiam o envolvimento do filho com a gangue, por isso recusaram os pedidos de ajuda da garota todas as vezes que puderam ouvi-la. Quando Junko tentou ligar para a polícia sozinha, foi pega em flagrante e, como punição, teve as suas pernas incendiadas, causando queimaduras de segundo grau.
Em 15 dias, o rosto de Junko estava tão machucado que ela perdeu a capacidade de respirar pelo nariz.
Em 20 dias, ela havia perdido a capacidade de se mover, pois era incapaz de usar as mãos, cujos ossos estavam moídos, tanto que, quando não fazia as necessidades onde estava, ela levava cerca de uma hora para usar o banheiro térreo.
Ela implorou para que dessem um fim em seu sofrimento e a matassem, mas eles se recusaram.
Estima-se que ela foi estuprada cerca de 400 vezes, sendo que, por dia, mais de 20 homens diferentes eram levados por Hiroshi até o quarto para violentar e agredi-la brutalmente. Devido a diminuição do tamanho de seu cérebro, em consequência das pancadas na cabeça, a jovem passou a sucumbir ainda mais às convulsões extremas.
E em 44 dias, a aparência dela havia desaparecido, deteriorada em meio ao inchaço, a pele torrada, ao pus, as bolhas e úlceras de infecções.
Revoltados os garotos a massacraram com porradas uma última vez certo dia, antes de seguiram atrás de novas vítimas para pelo satisfazê-los sexualmente. Então, no dia 4 de janeiro de 1989, largada sobre a sua miséria e o lixo amontoado no quarto, Junko Furuta convulsionou e morreu.
Percebendo isso apenas 24 horas depois, os quatro sequestradores embrulharam e a colocaram numa mala de viagem. Esta foi colocada em um tambor e coberta com concreto e o tambor descartado num caminhão de cimento no bairro de Koto.
Prisão de Hiroshi
Duas semanas após o crime, ironicamente, Hiroshi acabou se entregando sem querer para a polícia a respeito da morte de Junko quando foi preso com Jõ Ogura pelo estupro de uma outra garota e entreouviu que estavam investigando um caso de assassinato, dessa forma deduzindo que Ogura tivesse confessado. Rapidamente, ele contou onde o corpo da jovem poderia ser encontrado.
Julgamento
O caso ganhou a mídia e em pouco tempo toda a história hedionda de como a vida de Junko foi inumanamente interrompida, ganhou os noticiários do Japão e depois do mundo todo, principalmente por conta da sentença recebida pelos quatro jovens – que tiveram suas identidades preservadas pela justiça.
Jornalistas da revista Shūkan Bunshun descobriram suas identidades, entretanto, e as publicaram. Afirmaram que, dada a gravidade do crime, os arguidos não mereciam o respeito do anonimato. Todos os quatro meninos se confessaram culpados de "cometer lesões corporais que resultaram em morte", ao invés de assassinato.
Em julho de 1990, um tribunal de primeira instância condenou Hiroshi Miyano, o suposto líder do crime, a 17 anos de prisão. Ele apelou da sentença, mas o juiz da Suprema Corte de Tóquio, Ryuji Yanase, o sentenciou a mais três anos de prisão. A sentença de 20 anos é a segunda maior sentença proferida no Japão antes da prisão perpétua. Ele tinha 18 anos na época do assassinato. A mãe de Miyano supostamente enviou aos pais de Furuta 50 milhões de ienes (US $ 425.000), após vender a casa de sua família. Miyano teve sua liberdade condicional negada em 2004.
Em janeiro de 2013, Miyano foi preso novamente por fraude. Devido a evidências insuficientes, ele foi libertado sem acusações no final daquele mês.
Nobuharu Minato, que originalmente recebeu uma sentença de quatro a seis anos, foi re-sentenciado a cinco a nove anos pelo juiz Ryūji Yanase após apelação. Ele tinha 16 anos na época do assassinato.
Os pais e o irmão de Minato não foram acusados.
Os pais de Furuta ficaram consternados com as sentenças recebidas pelos assassinos de sua filha e ganharam uma ação civil contra os pais de Nobuharu Minato, em cuja casa os crimes foram cometidos.
Após sua libertação, Minato foi morar com sua mãe. Ele não trabalhou desde então. Em 2018, Minato foi preso novamente por tentativa de homicídio depois de espancar um homem de 32 anos com uma haste de metal e cortar sua garganta com uma faca.
Yasushi Watanabe, que foi originalmente condenado a três a quatro anos de prisão, recebeu uma sentença atualizada de cinco a sete anos. Ele tinha 17 anos na época do assassinato.
Por seu papel no crime, Jō Ogura cumpriu oito anos em uma prisão juvenil antes de ser libertado em agosto de 1999. Ele tinha 17 anos na época do assassinato.
Após sua libertação, ele teria se gabado de seu papel no sequestro, estupro e tortura de Furuta. Em julho de 2004, ele foi preso por agredir Takatoshi Isono, um conhecido com quem ele achava que sua namorada estava envolvida.
Ogura rastreou Isono, bateu nele e o empurrou para dentro do caminhão. Ele o levou de Adachi ao bar de sua mãe em Misato , onde ele teria batido em Isono por quatro horas. Durante esse tempo, Ogura repetidamente ameaçou matar o homem, dizendo-lhe que ele havia matado antes e sabia como se safar.
Ele foi condenado a sete anos de prisão pelo ataque a Isono e desde então foi libertado.
A mãe de Ogura supostamente vandalizou o túmulo de Furuta, afirmando que ela havia arruinado a vida de seu filho.
Também foi relatado que Ogura havia esgotado as economias de seu pai, dinheiro que deveria ser fornecido como restituição à família de Furuta, comprando e consumindo vários bens de luxo.
As sentenças foram amplamente consideradas como leves demais para os crimes cometidos, e todos os quatro indivíduos foram protegidos por disposições especiais aplicadas a indivíduos com 18 anos ou menos. Durante a sentença, o juiz comentou que "violência excepcionalmente grave e atroz" foi infligida à vítima, e que Junko Furuta foi "assassinado de forma tão brutal quando tinha 17 anos, [que sua] alma deve estar vagando em tormento". Ao ouvir os detalhes do estupro brutal e da tortura, um espectador na galeria desmaiou.
A mãe de Furuta também teve um colapso mental, que exigiu tratamento psiquiátrico.
De qualquer forma, o impacto do caso foi tão grande que demandou mudanças no sistema penal do Japão, principalmente no quesito de jovens serem julgados como adultos.
Descanse em paz
Em contraste à injustiça, durante o funeral de Junko Furuta realizado em 2 de abril de 1989, diante do caixão, a sua melhor amiga fez questão de acalmar o espírito da jovem: “Ouvi dizer que o diretor lhe entregou um certificado de graduação, então nós nos formamos juntas. Eu nunca vou te esquecer. Jun-Chan, não há mais dor. Não há mais sofrimento. Por favor, vá e descanse em paz”.
O futuro empregador de Furuta presenteou seus pais com o uniforme que ela teria usado na posição que ela aceitou. O uniforme foi colocado em seu caixão.
Na sua formatura, o diretor da escola de Furuta deu a ela um diploma do ensino médio, que foi dado a seus pais.
O local perto de onde o corpo de Furuta foi descoberto foi transformado no parque Wakasu.
Pessoas ao redor de Hiroshi Miyano lembraram que ele nunca proibiu outras pessoas de perguntarem a ele sobre o assassinato de Furuta. Ao falar sobre isso, ele sempre foi brincalhão e exultante, e agia como se não fosse da sua conta. Assim, Shūkan Bunshun o criticou por ser completamente impenitente.
O caso de Furuta na cultura popular
Pelo menos três livros foram escritos sobre o crime.
Um filme de exploração, Joshikōsei konkurīto-zume satsujin-jiken (Caso de Assassinato de Menina de Escola Secundária Envolvida em Concreto), foi feito sobre o incidente por Katsuya Matsumura em 1995. Yujin Kitagawa a dupla musical Yuzu desempenhou o papel do principal culpado, enquanto Mai Sasaki desempenhou o papel de Furuta.
A canção "Junko Furuta" da musicista indonésia Danilla Riyadi é uma homenagem a ela.
Seu assassinato foi a inspiração para o filme Concreto de 2004. Além disso, o mangá 17-sai. usou o caso Furuta como base.
A música "44 Days" do músico Mr.Kitty também é sobre o incidente.
Seu assassinato também foi mencionado em JU-ON: Origins, da Netflix, em uma TV passando ao fundo.
Agradecimentos aos amigos Elson em Nayara pela dica.
isso é que é revoltante, achei que so no brasil havia essas brechas nas leis...no mínimo era pros vagabundos terem pego perpétua ou pena de morte...e os pais do criminoso, fora tanta gente, sabendo tudo o que estava acontecendo debaixo do proprio nariz e não fizeram nada...
ResponderExcluirDepois tem gente que diz que no primeiro mundo a Justiça funciona...
ResponderExcluirNão tenho palavras pra descrever o quão aterrorizante é ler isso, nenhuma pessoa passou por oque essa garota passou, é simplesmente inacreditável como isso pode ser real, mostra o quão as pessoas são cruéis, não tem nenhum xingamento que descreva o quão ruim são esses jovens, acho que junko furuta ser lembrada, que ela descanse em paz e esteja em um lugar melhor agora nenhuma dor se compara com oque essa garota passou.
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