Hurtcore: As torturas sexuais não consentidas pela Deep Web

em 05/03/2020


Tormento e humilhação costumavam ser um espetáculo bem público. Mas no mundo moderno há novas maneiras de ser cruel, e muitas delas são conduzidas atrás da tela de um computador.

Não é novidade que na deep web existem alguns espaços dedicados a assuntos verdadeiramente tenebrosos, como já destacamos em inúmeras postagem aqui no blog Noite Sinistra (se vocês quiserem conferir alguma dessas matérias, clique AQUI para ser encaminhado para uma página sobre o assunto). Em 2018, Matthew Falder, um acadêmico de Cambridge e produtor de materiais “hurtcore” pegou 32 anos de cadeia. O episódio atrai novamente as atenções do mundo para a deep web, principal veículo de divulgação deste tipo de conteúdo que explora a humilhação sexual, muitas vezes por meio de chantagem.

O caso Matthew Falder

Isso começou para a “Vítima 5” em 2013, quando ela colocou um anúncio no Gumtree dizendo que queria comprar um cachorro. Um dos e-mails que a adolescente de 15 anos recebeu era estranho. Era de Liz, uma artista, que prometia pagar por qualquer cachorro que ela escolhesse. Em troca, Liz queria que a garota mandasse uma selfie sem blusa como inspiração para um desenho em carvão. Elas continuaram conversando por e-mail. A garota confidenciou para Liz que morava com uma família adotada, sofria bullying de outras garotas e tinha um irmão deficiente que era “tudo” para ela. Ela achou um cachorro custando £275, e Liz disse que iria comprá-lo para ela em troca da foto que “mais ninguém além de mim vai ver”. A garota mandou a foto. E assim que fez isso, Liz se tornou maldosa.

Liz disse que se a garota não mandasse mais fotos imediatamente, a que ela tinha mandado seria enviada para as garotas que faziam bullying com ela. A armadilha logo se apertou: quanto mais fotos a Vítima 5 mandava para Liz, mais ela era chantageada e mais explícitas eram as exigências de Liz. “Vou fazer tudo que puder para tornar sua vida um inferno”, Liz disse a ela. Ela ameaçou mandar as fotos para todo mundo da rua e da escola dela. Ela falaria com o serviço social e seu irmão deficiente seria tirado dela, a menos que a garota se fotografasse em uma série de poses nuas degradantes, segurando mensagens dizendo “Sou uma vadia” e “Cuido do meu irmão deficiente e agora sou obrigada a tirar a roupa”. A garota disse a Liz que queria se matar, mas Liz continuou exigindo fotos. A garota acabou no hospital depois de uma overdose.

Ao mesmo tempo, Liz estava chantageando outros: uma adolescente foi coagida a mandar um vídeo seu comendo ração de cachorro nua no chão, lambendo uma escova de privada suja e um absorvente interno usado, junto com fotos dela de pernas abertas, expondo os genitais, segurando um papel escrito “Odeio negros”.

Mas Liz não era uma adolescente; era Matthew Falder, um formado em Cambridge de classe média de 20 e poucos anos vivendo uma vida dupla. Quando não estava pesquisando sobre geofísica, saindo com seus amigos de faculdade e sua namorada, Falder, de 29 anos, estava usando endereços de e-mail criptografados para chantagear pessoas vulneráveis para tirarem fotos e vídeos realizando atos humilhantes, que depois ele circulava nos cantos mais escuros da internet.

Segundo os promotores, Falder – que cresceu numa parte rica de Cheshire – tratava suas vítimas como “objetos sexuais e objetos de escárnio”. Na deep web, sua preferência em particular era ver crianças em posições degradantes e sentindo dor. Em um fórum de pornô extremo, numa thread intitulada “100 coisas que queremos ver pelo menos uma vez”, ele sugeria “uma menina sendo usada como alvo de dardos”, um vídeo retratando os ossos de uma criança sendo “lentamente e deliberadamente quebrados” e o abuso de “uma criança paraplégica”.


No seu julgamento, Falder – que fez piada com os detetives que o prenderam, em junho de 2017, que as acusações contra ele pareciam “uma letra de rap do inferno” – foi sentenciado a 32 anos de prisão por um tribunal de Birmingham. Ele admitiu mais de 100 ofensas entre 2009 e 2017, cobrindo uma variedade de crimes sádicos online contra 48 pessoas de idades entre o começo da adolescência e a faixa dos trinta anos.

Durante sua sentença, o juiz Philip Parker descreveu os crimes de Falder como “um conto de depravação cada vez maior”. O juiz disse: “Você queria assumir total controle sobre suas vítimas. Seu comportamento foi ardiloso, persistente, manipulativo e cruel”.

Hurtcore

O caso marca o primeiro sucesso da promotoria do Reino Unido por crimes ligados a “hurtcore” – uma forma extrema de pornô focando em atos não simulados de tortura e humilhação, principalmente envolvendo crianças, incluindo bebês. Mesmo Falder sendo um criminoso prolífico, ele era um envolvido de apenas meio expediente num mundo que é tão sombrio quanto você pode imaginar.

A polícia foi alertada sobre Falder – ou pelo menos sobre suas identidades online, “Inthergarden”, “666devil” e “evilmind” – pelo FBI durante uma investigação em 2013 de um site chamado Hurt2theCore. Então o site de hurtcore mais notório da dark web, o Hurt2theCore tinha milhares de membros, centenas deles ativamente envolvidos em compartilhar material de abuso. Falder estava sempre no fórum do site, que tinha tópicos de discussão como “Produzindo pornografia infantil para idiotas”, “Bebê estrela pornô”, “Três Homens e um Bebê”, “Vadias destruídas”, “Estupro com choro” e uma thread do próprio Falder “Preciso de ideias para uma garota chantageada”.

Foi lá que Falder postou muitas das imagens e vídeos que conseguiu chantagear de jovens vulneráveis. Isso explica porque ele obrigou algumas delas, incluindo a Vítima 5, a segurar cartazes escritos a mão dizendo Hurt2theCore, não só como uma piada interna doentia para seus colegas de hurtcore, mas também um jeito de marcar e autenticar seu conteúdo como o “chantagista original”.

“Hurtcore é um fetiche para pessoas que se excitam em infligir dor, ou mesmo tortura, em outras pessoas sem consentimento”, explica Eileen Ormsby, que investigou a cena hurtcore da dark web para seu novo livro, The Darkest Web. “Pode ser algo tão sádico que até a maioria dos pedófilos sentem repulsa disso. Vídeos e fotos geralmente vêm de países pobres, mas o mercado é mundial.”

Matthew Graham
A misteriosa figura por trás do Hurt2theCore, e muita da zona do hurtcore da deep web, era uma personalidade da internet chamada Lux, que se tornou conhecido como o “Rei do Hurtcore”. Quando a polícia finalmente o identificou em 2014, ele era o estudante de nanotecnologia de 22 anos Matthew Graham, que comandava sites de hurtcore em sua zona “PedoEmpire” de seu quarto na casa dos pais, nos subúrbios de Melbourne.

Graham admitiu encorajar um pedófilo russo a sequestrar, estuprar, torturar e matar uma menina de cinco anos, apesar de ninguém saber se o russo realmente seguiu o plano. Graham também compartilhou um vídeo tão doente que muitos na internet achavam que era só uma lenda urbana. “Daisy's Destruction” mostrava uma bebê de 18 meses, amarrada de cabeça para baixo pelas pernas, sujeita a um sofrimento horrendo de violência, estupro e tortura por uma mulher mascarada. O filme era vendido para pedófilos e entusiastas de hurtcore na dark web por $10 mil, até que Graham colocou as mãos nele e – em nome da liberdade, como ele diria depois – o postou no Hurt2theCore.


O criminoso responsável pelo vídeo “Daisy's Destruction”, o médico Australiano Peter Scully, que havia criado uma verdadeira rede de sequestros para abusos sexuais que eram gravados e distribuídos na deep web. Scully já foi tema de uma matéria aqui no blog Noite Sinistra (clique AQUI para saber mais).

“Primeiro senti vergonha por me sentir atraído por coisas assim”, ele disse para o Daily Dot antes de sua prisão. “Mas com o tempo fui aceitando. Foi só quando cruzei com a comunidade pedófila do Tor que realmente me senti confortável com essa atração.”

Em 2016, Graham foi sentenciado a 15 anos de prisão por crimes que o juiz descreveu como “puramente malignos”.

Outro australiano, o empresário Peter Scully, que é acusado de fazer “Daisy's Destruction” com sua assistente Liezyl Margallo, está preso nas Filipinas, acusado de assassinato, tortura e abuso ligados aos vídeos que ele fez para sua produtora, a No Limits Fun.

Mas a crueldade é implacável. Desde que o PedoEmpire de Graham foi derrubado, novos sites apareceram e crianças continuam sendo chantageadas e abusadas para entreter uma horda sem rosto de molestadores da internet, usando novas tecnologias para saciar seus desejos. Um relatório, publicado em novembro de 2016 pelo Observatório de Cibercrime da Universidade Nacional Australiana, levantou preocupações de que um aumento do uso de realidade virtual e robótica sexual poderia motivar os criminosos a procurar vítimas na vida real, e “aumentar a experiência incorporando streaming ao vivo de estupros com as experiências táteis prometidas por tais tecnologias”.

MATTHEW FALMER. FOTO: NCA
Policiar as partes mais chocantes da deep web é uma tarefa intimidadora, diz Ormsby: “A deep web cria muitos problemas para as autoridades porque eles não conseguem rastrear os usuários por métodos normais. Eles precisam usar trabalho de detetive fora de moda – tentando identificar usuários através de características em fotos e vídeos, ou através de engenharia social [o uso de truques para manipular indivíduos para entregar informação confidencial ou pessoal].”

Ela diz que diferente de outros mercados da deep web, como de armas e drogas, a maioria do pornô ilegal é compartilhado entre os participantes de graça, então não há um rastro de dinheiro ou criptomoedas para seguir. Investigar disfarçado geralmente é o melhor método, mas, como Ormsby diz, “Para acessar a maioria dos sites extremos, os membros precisam fornecer material original retratando abuso infantil, então obviamente a polícia não pode participar disso”.

Um dos elementos mais difíceis de entender quando se trata de crimes de hurtcore é motivo. Tanto Falder quanto Graham tinham acabado de sair da adolescência quando se envolveram com a cena hurtcore. Nenhum dos julgamentos mencionou qualquer grande trauma ou humilhação na infância que poderia ter desencadeado tal deleite em ver outros serem machucados e humilhados. Também é surpreendente que mesmo estando até o pescoço em uma paisagem retratando níveis de maldade quase bíblicos, Falder em particular conseguiu manter esse lado seu completamente isolado de seu cotidiano.

Detetives que trabalharam no caso de Falder disseram que enquanto a maioria dos crimes são cometidos por sexo, paixão, dinheiro, vingança ou ódio, o principal motivador de Falder era causar sofrimento e humilhação para outros. “Em 30 anos na polícia nunca vi crimes tão horrendos, onde o único objetivo do criminoso era causar essa dor e sofrimento”, disse Matt Sutton, o investigador sênior do NCA.

“Acho que é uma questão de sadismo”, diz Ormsby. “A crueldade exigida para participar em hurtcore é simplesmente inimaginável para a maioria de nós. A deep web forneceu um lugar para indivíduos desse tipo se encontrarem com segurança, e o fato de que haja uma 'comunidade' – por falta de uma palavra melhor – pode normalizar seus desejos e atos, até um certo grau. Há um elemento de tentar superar os outros em depravação.”

A crueldade moderna é conduzida remotamente, mas tem o poder de colocar as vítimas sob seus pés. Os perpetradores se escondem numa rede de criptografia, enquanto as vítimas sofrem em silêncio. Muitas das pessoas que Falder atacou, apesar de terem sido tão degradadas, mostraram uma coragem inacreditável fazendo as denúncias. Elas expressaram alívio por ele ter sido capturado e punido, mas também falaram sobre como esse tipo particular de crueldade, administrada por alguém que nunca viram em carne e osso, deixou uma cicatriz mental indelével.

Nas palavras de uma das vítimas de Falder de 15 anos: “Penso no que aconteceu comigo todo dia. Acho que sempre vou pensar.”

Fonte: Vice Brasil

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5 comentários:

  1. 15 anos? Não é possível que não exista pena de morte no mundo todo, sempre que leio matérias assim eu penso nisso. Por que o estado assume o gasto de manter um maníaco, diabólico na prisão por 15 anos se claramente ele não tem nenhuma chance se ser reintegrado a sociedade? É uma questao de matemarica simples.

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  2. Esse é o mundo real, infelizmente. A internet trouxe a tona todas as bizarrices da humanidade, isso sempre aconteceu, mas hoje em dia só não enxerga quem não quer. Já tinha lido algo semelhante há uns anos atrás, era sobre deep web também, mostrava o anúncio em algum forum obscuro onde o cara pedia sugestões para abusar da enteada de 10 anos, ele relatava o que já tinha feito mas queria que os outros dissessem o que mais poderia fazer.

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