Crânios de 11 mil anos dão pistas sobre culto macabro na Turquia

em 17/10/2017


Crânios de quase 11 mil anos foram descobertos com estranhos entalhes no sítio arqueológico de Göbekli Tepe, ao sudeste da Turquia, próximo à fronteira com a Síria. Pesquisadores do Instituto Alemão de Arqueologia que trabalham no local acreditam que os detalhes são a primeira evidência de um ritual funerário praticado na região naquela época.

Estranho fascínio por cabeças

Desde os anos 1990, os arqueólogos vêm encontrando centenas de restos mortais em Göbekli Tepe. Mas o que chama a atenção dos especialistas é que, dos quase 700 pedaços de ossos achados, 408 são de crânios. Entre esses, 40 mostram sinais de corte, o que indica que a carne foi retirada do corpo logo após a morte dos indivíduos. Além disso, três de sete ossos vertebrais analisados têm evidências de decapitação.

Para entender melhor os achados, os arqueólogos se concentraram na análise de três crânios. Assim, descobriram que algumas marcas são entalhes feitos de forma proposital. Para eles, porém, a intenção não era decorativa.

Em um dos crânios, por exemplo, um furo foi feito na parte de cima da cabeça, o que sugere que as modificações tenham sido produzidas para facilitar o manuseio ou então para ajudar a pendurá-lo em algum lugar.

Além dos ossos, inscrições em pedra encontradas no local mostram uma preocupação exagerada em relação a cabeças humanas. Figuras decapitadas ou segurando crânios nas mãos foram achadas no local. Em Göbekli Tepe, também já foi descoberta uma pedra que continha relatos de um possível choque de meteoro na Terra.

Para os arqueólogos, os homens da época provavelmente usavam as caveiras de seus inimigos derrotados como forma de mostrar poder ou então veneravam os crânios de seus antepassados.

O sítio de Göbekli Tepe já é conhecido por ser um local sagrado para os antigos. Usado desde de 9 mil a.C., aproximadamente, o terreno possui rochas curvas ao redor de um grande número de pilares, como uma espécie de templo.

Isso e as descobertas dos crânios põem em prova a ideia de que a agricultura — prática que ainda estava nascendo na época em que o lugar foi criado — foi a responsável pelo surgimento de religiões e organizações sociais mais complexas.

O templo de Göbekli Tepe

Göbekli Tepe (Monte com Barriga ou Monte com Umbigo em turco) é o topo de uma colina onde foi encontrado um santuário, no ponto mais alto de um encadeamento montanhoso que forma a porção mais a sudeste dos montes Tauro, a aproximadamente 15 km a nordeste de Şanlıurfa (Urfa) no sudeste da Turquia. O tel possui 15 metros de altura por 300 de diâmetro. O sítio arqueológico, que está sendo escavado por arqueólogos alemães e turcos, foi construído por caçadores-coletores no décimo milénio a.C.. Junto com o sítio de Nevalı Çori, revolucionou o conhecimento do neolítico e as teorias sobre o início da civilização. As descobertas também têm um importante impacto sobre a história das religiões.

Descoberta

Göbekli Tepe já havia sido notada por uma pesquisa arqueológica norte-americana em 1964, que reconheceu que a colina não poderia ser inteiramente natural, mas presumiu que anomalias do terreno eram apenas um cemitério bizantino abandonado. Desde 1994 escavações tem sido conduzidas pelo Instituto Arqueológico Alemão e pelo Museu de Şanlıurfa, sob a direção do arqueólogo alemão Klaus Schmidt (1995-2000 pela Universidade de Heidelberg, desde 2001: Instituto Arqueológico Alemão). Schmidt diz que os fragmentos de rocha na superfície do monte fizeram com que tivesse certeza de que se tratava de um sítio pré-histórico. Antes disso o monte estava ocupado por culturas agrícolas. Gerações de habitantes locais frequentemente moviam rochas e as empilhavam para limpar o terreno e muita evidência arqueológica pode ter sido destruída no processo. Acadêmicos da Universidade Karlsruhe de Ciência Aplicada começaram a documentar os restos arquitetônicos. Logo foram descobertos pilares em forma de T, alguns dos quais apresentando sinais de tentativas de esmagamento.


O assentamento do Neolítico Pré-Cerâmico A (PPNA, na sigla em inglês) foi datado por volta do ano 9.000 a.C.. Há também restos de casas menores do Neolítico Pré-Cerâmico B e alguns achados epipaleolíticos.

O complexo

As escavações sugerem fortemente que Göbekli Tepe era um local de culto - o mais antigo já descoberto até hoje. Até que as escavações tivessem começado, não se imaginava possível um complexo nessa escala para uma comunidade tão antiga. A grande sequência de camadas estratificadas sugere muitos milênios de atividade, talvez desde o mesolítico. A camada com indícios de ocupação humana mais antiga (stratum III) continha pilares monolíticos ligados por paredes construídas grosseiramente para formar estruturas circulares ou ovais. Até agora, quatro construções como essas foram desenterradas, com diâmetros entre 10 e 30 metros. Pesquisas geofísicas indicam a existência de mais 16 estruturas.




O stratum II, datado do Neolítico Pré-Cerâmico B (PPNB, na sigla em inglês, 7.500 - 6.000 a.C), revelaram várias câmaras retangulares adjacentes com pisos de cal polido, reminiscências de pisos em estilo 'terrazzo' romanos. A camada mais recente consiste de sedimentos depositados pela erosão e pela atividade agrícola.

Os monólitos são decorados com relevos esculpidos de animais e pictogramas abstratos. Esses sinais não podem ser classificados como escrita, mas podem representar símbolos sagrados amplamente compreendidos, por analogia com outros exemplos de arte rupestre do neolítico.

Os relevos representam leões, touros, raposas, gazelas, burros, serpentes e outros répteis, insetos, aracnídeos e pássaros, particularmente abutres e aves aquáticas. Os abutres aparecem com destaque na iconografia de Çatalhüyük não muito longe dali. Acredita-se que nas culturas neolíticas do sudeste da Anatólia os mortos eram deliberadamente expostos para serem devorados por abutres e depois enterrados.


Poucas formas humanoides foram desenterradas em Göbekli Tepe, mas estas incluem relevos de uma Venus accueillante — o termo de Schmidt para uma mulher em uma pose sexualmente provocativa — e pelo menos um cadáver decapitado cercado de abutres. Alguns dos pilares em forma de 'T' tem 'braços' esculpidos, o que pode indicar que eles representam humanos estilizados. Outro pilar é decorado com mãos humanas no que poderia ser interpretado como um gesto de oração, com uma estola ou sobrepeliz gravada acima, o que pode representar um sacerdote.

Fontes: Galileu, Wikipédia e The Tepe Telegrams

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