Era 1972, na casa da família Robson em Hexham, apenas dez minutos a pé de onde o lendário Lobo de Allendale tinha percorriam as matas, os dois jovens irmãos Robson desenterraram duas pequenas pedras esculpidas como duas cabeças, enquanto eles estavam cuidando do jardim.
Após a descoberta coisas estranhas começaram a acontecer ao redor das pedras, o que levou os moradores dos arredores a acreditar que os itens fossem amaldiçoados ou enfeitiçados. Os acontecimentos acabaram revivendo a lenda local do "O Lobo de Allendale" associando a descoberta dos artefatos com o possível re-aparecimento do lobo.
Colin Robson de 15 anos estava cuidando do jardim de sua família em Hexham, uma cidade a cerca de 30 quilômetros de Newcastle no noroeste da Inglaterra. Enquanto escavava ao redor das plantas sua pá bateu no que parecia ser uma pedra enterrada. Limpando a terra, ele descobriu que a pedra do tamanho de um punho fechado havia sido entalhada na forma de uma cabeça humana.
Impressionado com a descoberta, ele chamou o avô que lhe ajudou a retirar a pedra do solo. Logo a seguir, encontraram uma segunda pedra no mesmo tamanho e mesmo formato. As pedras, que logo ficaram conhecidas como as Cabeças de Hexham, pareciam muito antigas.
A primeira tinha uma face quase esquelética, o que levou as pessoas que a viram acreditarem representar um ser masculino, e foi apelidada de "garoto". Sua cor tendia para um verde acinzentado com fragmentos brilhantes de cristal de quartzo. Os olhos arredondados eram fundos, com um nariz afilado e uma boca larga. Ela era muito pesada - mais pesada do que o concreto, com o cabelo esculpido correndo da frente para a parte traseira da cabeça. A segunda cabeça - a "garota", parecia uma bruxa, com olhos esbugalhados, as maçãs no rosto estreitas e cabelos armados no que parecia ser um coque, Haviam traços de pigmento vermelho e amarelo onde ficava o cabelo.
Depois que as cabeças foram retiradas do solo, o garoto as lavou e trouxe para dentro de casa depositando-as no alto de um armário para que todos pudessem vê-las. Era uma descoberta arqueológica significativa, embora ninguém soubesse a origem, cogitavam que fossem romanas ou quem sabe, ainda mais antigas.
A maldição das pedras de Hexham
Foi então que as coisas começaram a ficar estranhas e incidentes inexplicáveis tiveram início.
Todos na casa sentiam uma mudança no ambiente. Era como se algo ruim estivesse acontecendo, uma sensação até então indescritível de perturbação. Objetos caíam no chão sem que ninguém fosse responsável por movê-los. Garrafas, porta retratos e livros simplesmente não paravam nas estantes e prateleiras. Um telefone teimava em cair de uma mesinha, até que o fio foi arrancado da parede. Uma fechadura quebrou depois da porta bater com força. Rachaduras começaram a aparecer nas paredes e os quadros ficavam tortos. Certa noite, os moradores da casa acordaram com o som de vidro estilhaçando, a janela da sala havia simplesmente estourado lançando cacos de vidro por todo aposento. Enquanto isso, no local exato de onde as pedras haviam sido removidas brotavam ervas daninhas e heras espinhosas. Uma praga de formigas e abelhas tomou conta do quintal, arruinando o jardim até então bem cuidado e livre de insetos. Mas o pior de tudo era o cheiro, uma mistura de fedor de urina e de animal selvagem impregnando a casa.
Apesar de o bom senso dizer que tais fenômenos podem ser explicados e que nada de sobrenatural estava acontecendo, família sentia que havia algo errado. Nenhum deles dormia de maneira tranquila e a sensação de estar sendo vigiado, mesmo quando estavam sozinhos era insuportável.
A medida que coisas estranhas iam acontecendo o caso passou a se tornar conhecido nas redondezas.
Entretanto, foi uma vizinha chamada Ellen Dodd, que morava na parte dos fundos da propriedade, quem teria o primeiro contato com a força desconhecida que parecia habitar a casa. Ela relatou a seguinte história:
"Eu estava colocando roupas para secar no varal em meu quintal, quando ouvi o grito de Brian, meu filho mais novo que na época tinha 10 anos de idade. Eu corri para ver o que estava acontecendo e o encontrei chorando desesperado. Perguntei o que havia acontecido e ele disse que alguma coisa o havia machucado. Eu disse a ele para me mostrar onde doía e de repente ele começou a gritar novamente como se estivesse tendo um ataque. Fiquei tão assustada que tentei segurá-lo e então percebi que haviam marcas vermelhas surgindo em baixo de sua camisa. Quando levantei a blusa vi marcas arredondadas nas costas e na barriga dele, como se fossem mordidas de algum animal. Eu fiquei apavorada e corri com ele para dentro de casa. Levei Brian até o médico e ele disse que as marcas eram semelhantes a mordidas de cachorro. Quando voltei para casa descobri que haviam marcas de arranhão e pelo menos uma mordida nas minhas pernas. Lembrei que quando corri com Brian no colo, senti alguma coisa avançando nas minhas pernas, mas não havia percebido que estava ferida".
Esse foi o primeiro incidente envolvendo os Dodd, mas não o único. Alguns dias depois do incidente com as mordidas, a senhora Dodd estava cuidando do quintal quando sentiu um fedor estranho que lembrava o cheiro de um "animal peludo molhado". Ela sentiu então uma presença e essa força invisível a derrubou no chão subindo sobre seu peito impedindo-a de levantar. "Parecia um cachorro muito grande ou uma ovelha, eu conseguia sentir os pelos crespos da coisa, um fedor medonho e um hálito quente", contou ela a um jornal. "Quando consegui me levantar, corri para dentro de casa e tranquei a porta. Ouvi o barulho da coisa se chocando repetidas vezes contra a porta. Tive medo que ele conseguisse derrubá-la".
Na casa ao lado os incidentes perturbadores continuavam. Uma noite a família foi acordada com uma espécie de latido ou rosnado muito alto que parecia vir da sala. Quando correram para ver o que estava acontecendo encontraram o sofá todo arranhado, com marcas de garras que haviam rasgado o tecido.
O jornal Sunday People teria noticiado o caso aumentando o pavor em torno dos artefatos |
A mãe de Colin, Helen Robson, teve, dias depois, uma experiência com a tal criatura invisível. Ela afirmou ter sido perseguida por alguma coisa que arfava e que tentou derrubá-la no chão em duas oportunidades. "Era como se fosse um cachorro grande e peludo avançando nas minhas pernas, tentando me derrubar. Em determinado momento, eu senti como se algo tivesse agarrado meu tornozelo, mas era uma mão humana que me segurou e puxou violentamente. Eu consegui escapar e algumas pessoas que passavam na rua me socorreram. A mão deixou ferimentos que um enfermeiro sugeriu serem de unhas muito afiadas."
Com todos esses incidentes, os Robson e os Dodd assumiram que os acontecimentos tinham alguma relação com as cabeças retiradas do solo, afinal eles só começaram depois de sua descoberta no quintal.
O último incidente demonstrou que as coisas estavam em uma escalada de horror. Colin e sua irmã Daniela estavam voltando da escola e encontraram a porta da frente escancarada. Ao se aproximar para ver o que estava acontecendo se depararam com uma criatura medonha deitada no meio da sala. Colin descreveu a coisa como "meio homem-meio cão, mas parecido também com um carneiro". O pelo era crespo, com novelos escuros, ele se movia de maneira desajeitada nas duas pernas traseiras, mas logo se colocou de quatro e os perseguiu até o lado de fora. Os dois conseguiram escapar e chamaram os vizinhos. Nada foi encontrado, embora um cheiro forte de animal pudesse ser sentido no ar. Aterrorizados, os Robson decidiram chamar professores da Universidade de Newcastle que aceitaram levar os artefatos. Um padre também foi chamado para abençoar a casa e purificar o lugar de qualquer presença demoníaca que pudesse estar causando a situação. Para alívio de todos, com a remoção dos artefatos as coisas se acalmaram na vizinhança.
Mas esse não foi o fim da história, longe disso. O horror apenas mudou de endereço assim que as cabeças foram entregues a Dra. Anne Ross, uma respeitada especialista em Folclore Celta. A Doutora pediu permissão para levar as peças até sua casa onde passou a realizar estudos para determinar sua origem e significado.
Em um artigo publicado na revista "Folclore, Myths and Legends of Britain", Ross defendia que os artefatos tinham pelo menos 1800 anos de idade e que haviam sido criadas como parte de complexos rituais de feitiçaria celta. Os Celtas consideravam que a cabeça humana era a fonte suprema do poder espiritual. Eles utilizavam representações da cabeça humana ou crânios como foco de vários rituais ou como guardiões espirituais. Acreditavam que os deuses podiam "ver" através das cabeças dispostas nos lugares sagrados e assim participar das celebrações de modo presencial. Em alguns casos, as cabeças tinham função de proteger lugares sagrados e estabelecer uma ponte entre o mundo real e o reino espiritual.
Quando as cabeças foram removidas da casa dos Robson e a Dra. Ross tomou posse delas e ao que parece a maldição foi transferida para ela:
"Eu jamais poderia acreditar nessas coisas. Como acadêmica era algo que eu não poderia conceber. Apesar de estar ciente dos acontecimentos narrados pela família Robson, aqueles que encontraram os artefatos, confesso que não dei atenção ao que eles contaram".
A opinião de Anne mudaria quando ela própria experimentou algo inexplicável cerca de duas semanas depois de levar os artefatos para sua casa.
"Nós sempre mantivemos a luz do hall acesa e as portas abertas, porque nosso filho tinha medo do escuro. Em uma noite acordei com uma sensação estranha, como se tivesse sofrido um pesadelo e ainda estivesse confusa. Estava muito frio no quarto e levantei para ver se a janela estava aberta. Era como se uma atmosfera sinistra e congelante envolvesse o quarto. Algo fez com que eu fosse até o corredor ver como estava meu filho, e lá me deparei com algo inesperado".
"Ele tinha quase dois metros de altura, mas se movia inclinado, não totalmente ereto. Era escuro e peludo e parecia preto contra a parede branca. Era meio-animal e meio-homem. A parte superior de um lobo e a inferior de um homem. Seu corpo era coberto de pelagem escura e comprida. O cheiro era horrível, lembrava o fedor de uma carcaça apodrecida. Ele imediatamente caiu de quatro no chão e pude ver que suas patas terminavam em mãos de gente. Ele arreganhou os dentes mostrando as presas e rosnou como se fosse uma fera. Eu gritei e no momento seguinte ele simplesmente desapareceu. Eu fiquei aterrorizada! Foi a experiência mais horrível da minha vida, algo que eu nunca vou esquecer".
Mas esse não foi o final da história. Poucos dias depois, convencida de que havia tido um pesadelo desperto, a Dra Ross recebeu o telefonema de uma senhora que trabalhava como babá cuidando de seu filho. A mulher, uma pessoa muito equilibrada chamada Norah James não falava coisa com coisa e gritava sem parar no telefone. Anne correu para casa e ao chegar lá, encontrou Norah do lado de fora, com a criança no colo. Alguns vizinhos a ajudavam.
Ela contou ter ouvido um barulho na sala, como se algo tivesse caído e foi até lá ver o que estava acontecendo. Quando abriu a porta uma coisa grande e escura pulou em cima dela. Norah descreveu a coisa como um lobo, que corria de quatro embora da cintura para baixo ele parecesse um homem. A babá conseguiu se desvencilhar da coisa que tentou agarrá-la e subiu até o quarto onde trancou a porta com a criança que estava sob sua responsabilidade. Lá aguardou, ouvindo a coisa espreitando do lado de fora. Só quando tudo ficou em silêncio ela agarrou a criança e correu o mais rápido que pode para fora da casa.
Norah pediu demissão e a Dra. Anne Ross decidiu devolver as peças para a Universidade. Ela relatou esses acontecimentos cerca de 10 anos depois deles terem transcorrido: "Eu temia que as pessoas pudessem interpretar errado. Que talvez achassem que eu estava tentando me promover. Seja como for, achei que era melhor não falar sobre o ocorrido". Após se livrar das peças - e de todos os objetos de folclore celta que tinha em casa, as coisas voltaram ao normal.
As Cabeças de Hexham foram deixadas sob os cuidados da Universidade de Newcastle, mantidas sob os cuidados do Departamento de História Antiga e até onde se sabe nada estranho ocorreu posteriormente.
Polêmica envolvendo a origem dos artefatos
Então, em meados de 1974 ocorreu uma nova reviravolta na história. Um motorista de caminhão chamado Desmond Craigie anunciou que era o dono das peças e que elas não tinham mais do 16 anos. Elas não eram objetos criados para rituais religiosos pelos antigos celtas e sim peças entalhadas por Craigie para sua filha, Nancy. Ele explicou que havia morado exatamente na casa, posteriormente ocupada pelos Robson muitos anos depois. Nessa época, Craigie trabalhava fazendo entalhes decorativos em pedra e um dia decidiu fazer três peças no formato de cabeças para dispor pelo jardim.
"Nancy brincava com elas, chegou a pintá-las certa vez" ele contou, "Um dia uma delas quebrou e eu simplesmente a joguei fora. As outras duas ficaram por anos no pátio e quando nos mudamos não fazia sentido levá-las conosco. Devem ter sido chutadas para o lado e acabaram afundando no terreno onde foram encontradas".
Envergonhado pela publicidade que atraiu, Desmond Craigie disse que foi a público apenas para relatar as coisas do seu ponto de vista. A respeito das peças ele explicou: "Tenho certeza que são essas as peças que entalhei, elas ficavam no pátio e eu as via todos os dias quando saia para o trabalho".
A Dra. Anne Ross, no entanto refutou a explicação do caminhoneiro: "A não ser que o Sr. Craigie estivesse familiarizado com a maneira como os Celtas moldavam as cabeças de pedra, ela não poderia reproduzir o mesmo processo. As peças, no meu entender, e no de outros estudiosos que as examinaram, são genuínas e sua origem é Celta".
Uma análise científica, surpreendentemente, foi incapaz de determinar a idade precisa dos artefatos e quando eles foram entalhados. O método no entanto, segundo especialistas estava em conformidade com o processo de entalhe dos povos celtas.
Segundo muitas superstições, cabeças entalhadas ou crânios humanos colocados em templos ou lugares sagrados, eram considerados objetos importantes e quando removidos de seu lugar original, podiam amaldiçoar os envolvidos. Lendas desse tipo não são raras, e de fato, aparecem em várias culturas. São uma maneira eficaz de conter a ação de saqueadores e ladrões de tumbas, interessados em surrupiar tais objetos e vendê-los. Boatos sobre maldições estão presentes em várias culturas, dos Egípcios aos Astecas e é claro, entre os celtas.
Lobisomens na cultura Celta
O folclore celta é rico em monstros, demônios e criaturas espirituais. Lobisomens e homens com traços de animais estão presentes em diversos mitos gaélicos, na qualidade de servos e agentes das Divindades que compõem o rico Panteão Celta. Nessa interpretação, a criatura espiritual poderia ter sido vinculada às Cabeças de Hexham como sua protetora direta, erguendo-se contra qualquer um que reclamasse a posse dos artefatos. Além disso, o Mito do Lobisomem entre os Povos Celtas se diferia muito do difundido pelos povos Teutônicos e do restante da Europa. O lobisomem não era tratado com um "monstro selvagem", mas como uma espécie de Guardião ou Protetor, conhecido pelos nomes Faoladgh ou Conroicht. Esses seres eram mais espirituais do que de carne e osso e podiam ser invocados para cumprir missões de caráter religioso.
Mas se o "Lobisomem" estava lá para proteger os artefatos, porque ela parou de se manifestar quando as peças foram levadas para a Universidade de Newcastle?
Um detalhe final na história torna tudo ainda mais estranho e curioso. Em 1976 uma ala do Museu da Universidade de Newcastle se incendiou e no trabalho para apagar o fogo, várias peças foram dadas como desaparecidas, entre elas, as duas Cabeças de Hexham. Teriam sido elas reclamadas pelos Deuses Celtas? Ou alguém aproveitou o incêndio para levar as peças e vender no mercado negro de artefatos históricos? Talvez o homem lobo tenha dado um jeito de desaparecer para sempre com os artefatos.
Hoje o mistério das Cabeças de Hexham se tornou ainda mais profundo. Nada se sabe a respeito do seu paradeiro, sua idade e se eram realmente artefatos arqueológicos ou simples reproduções. Pior ainda, provavelmente jamais saberemos se a maldição continua ativa ou não.
Fontes: Mundo Tentacular e Forget the Fear
Nenhum comentário:
Postar um comentário