Epidemia do Suor Inglês

em 20/07/2016


O suor inglês, também conhecido como sudor anglicu, atacou a Inglaterra cinco vezes. Foi uma epidemia devastadora que entre 1485 e 1551 matou 3 milhões de pessoas. A epidemia sempre vinha no verão, o suor matava o enfermo em média em até 24 horas, mas vezes o óbito acontecia em apenas 3 horas.

O relato feito pelo italiano Polydore Vergílio em 1485, um dos primeiros conhecidos da doença, é assustador:

“Em 1485 uma nova doença atingiu todo o reino…uma pestilência de fato horrível…repentinamente um suor fatal ataca o corpo, devastando-o com dores na cabeça e no estômago agravadas pela terrível sensação de calor. Em decorrência disso, os pacientes retiravam tudo o que os cobria; se estivessem vestidos, arrancavam as roupas, os sedentos bebiam água, outros sofriam dessa febre fétida provocada pelo suor, que exalava um odor insuportável…todos morriam imediatamente ou pouco tempo depois do suor começar; de tal modo, que um em cada centena escapava”.

O relato do médico real John Caius, feito em 1552, logo após a última epidemia, é mais técnico, mas nem por isso menos assombroso;

“Primeiro a dor nas costas e nos ombros, dor nas extremidades, como braços e pernas, com ardor ou espasmo, como se apresentava em alguns pacientes. No segundo momento apareciam as dores no fígado e nas proximidades do estômago. Na terceira fase surgia uma dor de cabeça acompanhada de insanidade. Na quarta, o sofrimento do coração…pacientes respirando aceleradamente e com dificuldade…com a voz ofegante e lamuriosa…não resistiam mais do que um dia.”

Os tratamentos eram inúteis, as pessoas chegaram a "conclusão" que para salvar a pessoa, tinha que faze-la suar ainda mais para "expulsar" a doença. Com isso quando alguém apresentava o primeiro sintoma era coberto por roupas, mantas e cobertores. Em pouco tempo a pessoa tinha febre, muito suor e morria. Os familiares achavam que não tinham começado o "tratamento" a tempo.

Lutero foi um dos poucos que contraiu a estranha doença e sobreviveu em 1529.

A doença do suor foi uma doença epidêmica, não conhecida na Inglaterra antes do período Tudor. Ela atraiu a atenção logo no início do reinado de Henrique VII. Tornou-se conhecida alguns dias após seu desembarque em Milford Haven, no dia 07 de agosto de 1485, também há evidências claras de que foi comentada antes da batalha de Bosworth, no dia 22 de agosto. Logo após a chegada de Henrique, em Londres, em 28 de agosto, a capital eclodiu com a enfermidade, causando um alto índice de mortalidade. Esta alarmante doença logo tornou-se conhecida como a doença do suor ou suor maligno. Foi considerada amplamente distinta de qualquer doença ou praga previamente conhecida na Inglaterra, não só pelo sintoma especial que lhe deu o nome, como também por sua rápida e fatal evolução.

Após 1485 até 1507, não ouviu-se mais falar da doença, até que um novo surto ocorreu. O segundo surto foi amplamente mais fatal que o primeiro e cessou como o primeiro. Nenhum sinal da doença foi vista novamente, até que em 1517 um terceiro e muito mais grave surto da epidemia ocorreu. Foi registrada em Oxford e Cambridge, bem como em outras cidades, onde em alguns casos, houve uma perda de até metade da população. Há evidências de que a doença tenha se espalhado para Calais e Antuérpia, porém, fora estes dois locais, ela ficou confinada apenas à Inglaterra.

Em 1558, ocorreu um quarto ciclo da doença, cada vez mais preocupante e severa. Primeiro apareceu em Londres e no final do mês de maio, rapidamente espalhou-se por toda a Inglaterra. Em Londres, a mortalidade foi tão alta, que a corte Tudor foi dissipada e Henrique VIII muitas vezes deixou a cidade por medo da doença. Esta epidemia então espalhou-se pelo continente, aparecendo de repente em Hamburgo e então espalhando-se tão rapidamente que em poucas semanas mais de mil pessoas já haviam morrido. Esta foi mais uma vez a terrível doença do suor, seguindo seu rápido curso destrutivo, durante o qual, causou uma temerosa mortalidade em toda a Europa oriental. França, Itália e os países do sul foram poupados. Espalhou-se de maneira semelhante a cólera, chegando à Suíça em dezembro, e em outros países do norte, como a Dinamarca, Suécia e Noruega. A leste afetou a Lituânia, Polônia e Rússia, e a oeste a Holanda, a menos que de fato a epidemia, que se declarou simultaneamente em Antuérpia e Amsterdam, na manhã do dia 27 de setembro, tenha vindo diretamente da Inglaterra. A doença disseminava caos e morte, e em cada lugar que passava, prevalecia durante um curto período de tempo, geralmente não mais que uma quinzena. Até o final daquele ano, ela já havia desaparecido quase que por completo, exceto no leste da Suíça, onde permaneceria pelo próximo ano. Enfim, o terrível ”suor inglês”, nunca mais apareceria novamente, pelo menos da mesma forma no Continente. A Inglaterra, no entanto, foi destinada a sofrer de mais um surto da doença em 1551, e no que diz respeito a isso, temos a grande vantagem de contar com os relatos de uma testemunha ocular, John Kaye ou Caius, um famoso médico.

Sintomas do Suor Inglês

Os sintomas descrito por Caius, diziam que a doença começava muito de repente, com um sentimento de apreensão, seguido de calafrios (por vezes muitas vezes violentos), tontura, dor de cabeça e fortes dores no pescoço, ombros e membros, com grande prostração. Após a fase do frio, que poderia durar de meia hora a três horas, seguia-se a fase de calor e transpiração. O característico suor, por sua vez eclodia de repente, sem nenhuma causa óbvia. Com o suor derramado, vinha uma nova sensação de calor, seguida de dor de cabeça, delírio, pulso rápido e sede intensa. Palpitações e dores no coração eram sintomas frequentes. Nenhuma erupção na pele foi observada; Caius não fez alusão nenhuma a tal sintoma. Nos estágios mais avançados, houve prostração geral, colapso, ou sonolência extrema, que acreditavam ser fatal, se o paciente cedesse. Como dito anteriormente, a doença foi notavelmente rápida em seu curso, sendo por vezes, até mesmo fatais em duas ou três horas, sendo que alguns pacientes morriam em menos tempo. Mas comumente, era prolongada a um período de 12 a 24 horas, sendo raro sobreviver após esse tempo. Aqueles que sobreviviam por 24 horas eram considerados fora de perigo.


A doença, ao contrário da peste, não foi especialmente fatal para apenas para os pobres, mas sim, como afirma Caius cita, atacou especialmente os mais ricos, bon vivants e pobres ociosos. “Os que possuíam a fatal doença do suor, ou eram homens de riqueza, conforto ou bem-estar, ou os mais pobres, pessoas ociosas, que bebiam cerveja e frequentavam a taverna.”.

Causas da doença

Alguns atribuíram a doença ao clima Inglês, sua umidade e suas brumas, aos hábitos destemperados do povo inglês, e à terrível falta de limpeza nas ruas e arredores das casas, que foi notada por Erasmus em uma passagem bem conhecida, e sobre o qual Caius é igualmente explícito. Mas temos de concluir que o clima, estação, e modo de vida não eram adequados, separadamente ou em conjunto, para produzir tal doença, embora cada um pudesse ter agido por vezes, como uma das causas predisponentes. A doença do suor, na verdade, para usar a linguagem moderna, foi uma doença infecciosa específica, no mesmo grau da peste, tifo, escarlatina ou malária.


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