Saudações galera atormentada. Hoje trago a vocês a história de uma tragédia que aconteceu na década de 70 na cidade de João Pessoa, onde 35 pessoas perderam a vida no naufrágio de uma embarcação na Lagoa do Parque Solon de Lucena, durante as festividades do dia do Exército.
Essa matéria, que faz parte da série destinada a fala das Histórias e Lendas Brasileiras, me foi indicada pelo estimado amigo Rogério Santos. O Rogério inclusive me enviou o livro Opus Diaboli - A Lagoa e outras Tragédias, do escritor Gilvan de Brito, que foi uma valiosa fonte para a criação dessa matéria. Gilvan de Brito era, na época do acidente, na época repórter do jornal Correio da Paraíba, foi testemunha ocular da tragédia acontecida na lagoa. Segundo ele escreve no seu livro ele, ao ver o que acontecia, conseguiu chegar rapidamente a Rádio Tabajara, que ficava nos arredores, e emitir ao vivo um alerta chamando o corpo de bombeiros.
Aproveito a oportunidade para agradecer a gentileza do nosso colaborador e também pedir desculpas pela demora em publicar a matéria, já que o livro está em minha posse a uma boa quantidade de meses.
Aproveito a oportunidade para agradecer a gentileza do nosso colaborador e também pedir desculpas pela demora em publicar a matéria, já que o livro está em minha posse a uma boa quantidade de meses.
A tragédia da Lagoa
A fatalidade ocorreu no dia 24 de agosto do ano de 1975, um domingo. O povo da capital paraibana lotava a área central da cidade para conferir os eventos preparados pelos militares brasileiros em comemoração ao Dia do Soldado. Havia exposição de armas, canhões, viaturas, carros de combate, armadilhas de caça e pesca e galeria de fotos. Mas a atração que chamava mais atenção do público, principalmente entre as crianças, era outra: os passeios nas águas da Lagoa a bordo da Portada M-2.
Por volta das 17h15, quando a embarcação fazia sua última viagem, houve um alarme de que estaria entrando água no barco – possivelmente por causa de aberturas acidentais – o que gerou pânico, segundo nota divulgada no dia seguinte ao naufrágio pelo 1º Grupamento de Engenharia. O texto dizia que “um grande número de pessoas deslocou-se para frente da portada, fazendo com que ela submergisse”.
O jornalista e escritor Gilvan de Brito fez a cobertura jornalística do acontecimento. Ele estava no local com os filhos, que, segundo seus relatos no seu livro "Opus Diaboli - A Lagoa e outras Tragédias", desejavam participar do passeio. Para Gilvan a versão do Exército não convence.
"Cerca de 200 pessoas estavam na embarcação, apesar da capacidade dela ser de apenas 60 passageiros. Além disso, não era uma barca apropriada para transportar pessoas, mas sim materiais, equipamentos. Nem coletes salva-vidas os militares disponibilizaram, ou seja, fica claro que o que houve ali foi uma negligência. Porém, esses detalhes não foram divulgados na época, já que vivíamos uma ditadura militar e os textos eram censurados caso desagradassem minimamente o governo", diz.
“De longe não era possível ver sequer o lastro da embarcação, por causa do grande número de ocupantes da barca. Quando a embarcação já se encontrava em um local mais profundo, as pessoas que estavam em terra começaram a se preocupar porque observaram que o barco estava desaparecendo. Das margens da Lagoa, ouvíamos apelos e gritos vindos do barco”, conta.
Gilvan de Brito relata ainda que, ao perceber que o barco estava afundando, foi até a Rádio Tabajara e lá avisou ao Corpo de Bombeiros sobre o acidente. "Quando cheguei estava acontecendo a transmissão do jogo entre Campinense e CSA, de Alagoas. Interrompemos a narração para comunicar os ouvintes sobre a tragédia e avisamos aos Bombeiros. Em poucos minutos eles chegaram à Lagoa e começaram o resgate das vítimas", lembra.
Abaixo confira a transcrição das palavras de Gilvan naquela tarde:
"Desculpe a interrupção do jogo, mas tenho uma informação que não pode deixar de ser transmitida com a máxima urgência: Durante as comemoração da semana do Exército, um barco vem fazendo regularmente passeios com as crianças e adultos na Lagoa do parque Solon de Lucena. Ocorre que na viagem, iniciada há pouco, o barco começou a afundar, com dezenas de crianças e adultos no seu interior. Ao que parece o excesso de lotação está levando o barco ao fundo da lagoa. Pelo motivo quero chamar a atenção dos integrantes do Corpo de Bombeiros que possam estar ouvindo esta transmissão, e de todas as pessoas que saibam nadar ou que possuam boias e objetos inflados, que sigam imediatamente para a lagoa a fim de salvarem as vidas de mais de uma centena de crianças que estão afundando. Repito, o barco que realizava passeios com crianças na Lagoa está afundando neste momento. Chamo a atenção dos bombeiros e de pessoas que possam ajudar de alguma forma que se encaminhem imediatamente para a lagoa a fim de salvarem vidas que se debatem na água. O barco encontra-se no ponto mais profunda entre a fonte luminosa e a borda da Lagoa, próximo a Rua Padre Meira".Conforme relatado no livro, muitas pessoas apareceram para de fato ajudar nos salvamentos.
Policiais militares e pessoas que observavam o passeio também atuaram na operação. A dona de casa Claudecy Ventura, de 57 anos, estava entre as testemunhas da tragédia. Ela recorda o clima de desespero que tomou conta dos presentes no Parque Solon de Lucena.
“Havia muita gente no entorno da Lagoa. Pessoas que já estavam lá acompanhando o passeio e outras que foram ao local depois de ficar sabendo do acidente. A todo o momento era possível ouvir gritos de pessoas que haviam perdido entes queridos na tragédia. E mesmo quem não conhecia as vítimas ficou bastante comovido, principalmente durante a retirada dos corpos da Lagoa. Foi uma cena muito impactante”, lembra.
Entre as vítimas fatais estava uma vizinha dela e o sargento Reginaldo Calixto, com quem tinha amigos em comum. Ele trabalhava no resgate das vítimas quando foi agarrado por uma jovem e acabou se afogando. Antes de morrer, o militar conseguiu salvar três crianças. O comandante da barca, sargento Edesio Basseto, e o soldado do Exército Carlos Alberto Nóbrega também morreram no acidente.
Por causa do clima de comoção que tomou conta da cidade, autoridades decretaram luto oficial. Naquele ano, não houve o tradicional desfile cívico em comemoração à Independência do Brasil. A decisão foi tomada pelo governo do Estado Guarnição Militar, Secretaria da Educação e Cultura e Polícia Militar.
Além do luto, o medo de uma nova tragédia atingiu os pessoenses. "Na época existia um projeto de implantação de pedalinhos na Lagoa, mas isso assustou muito as pessoas. Era falado que um novo acidente iria ocorrer e fazer mais vítimas naquele local. Depois de uma certa polêmica, acabaram desistindo do projeto", destaca Gilvan de Brito.
“Havia muita gente no entorno da Lagoa. Pessoas que já estavam lá acompanhando o passeio e outras que foram ao local depois de ficar sabendo do acidente. A todo o momento era possível ouvir gritos de pessoas que haviam perdido entes queridos na tragédia. E mesmo quem não conhecia as vítimas ficou bastante comovido, principalmente durante a retirada dos corpos da Lagoa. Foi uma cena muito impactante”, lembra.
Entre as vítimas fatais estava uma vizinha dela e o sargento Reginaldo Calixto, com quem tinha amigos em comum. Ele trabalhava no resgate das vítimas quando foi agarrado por uma jovem e acabou se afogando. Antes de morrer, o militar conseguiu salvar três crianças. O comandante da barca, sargento Edesio Basseto, e o soldado do Exército Carlos Alberto Nóbrega também morreram no acidente.
Por causa do clima de comoção que tomou conta da cidade, autoridades decretaram luto oficial. Naquele ano, não houve o tradicional desfile cívico em comemoração à Independência do Brasil. A decisão foi tomada pelo governo do Estado Guarnição Militar, Secretaria da Educação e Cultura e Polícia Militar.
Além do luto, o medo de uma nova tragédia atingiu os pessoenses. "Na época existia um projeto de implantação de pedalinhos na Lagoa, mas isso assustou muito as pessoas. Era falado que um novo acidente iria ocorrer e fazer mais vítimas naquele local. Depois de uma certa polêmica, acabaram desistindo do projeto", destaca Gilvan de Brito.
Justiça
De acordo com documento divulgado em 2011 pela Comissão de Gestão Documental da Justiça Federal na Paraíba, familiares das vítimas entraram com ações judiciais, visando ao recebimento de indenizações. O direito à reparação foi reconhecido nas decisões dos juízes Francisco Xavier Pinheiro e Ridalvo Costa, que responsabilizaram a União pelo acidente.
“As sentenças fundamentaram-se na teoria da responsabilidade civil objetiva com base no risco administrativo. Para essa teoria é exigida apenas a prova do dano, sem concurso da vítima, provocado por preposto da pessoa jurídica de direito público. A União foi condenada ao pagamento de pensões, segundo critérios definidos em cada situação”, explica o relatório.
“As sentenças fundamentaram-se na teoria da responsabilidade civil objetiva com base no risco administrativo. Para essa teoria é exigida apenas a prova do dano, sem concurso da vítima, provocado por preposto da pessoa jurídica de direito público. A União foi condenada ao pagamento de pensões, segundo critérios definidos em cada situação”, explica o relatório.
Marco histórico
Para o jornalista Gilvan de Brito, não há dúvidas de que o naufrágio na Lagoa, que vitimou 35 pessoas, figura entre as maiores tragédias já registradas no estado. "Vejo esse como um dos casos mais emblemáticos da nossa cidade. Em termos de dimensão e comoção popular, talvez perca apenas para uma epidemia de cólera, que vitimou cerca de 40 mil pessoas em todo o estado, em meados de 1856".
Ele lembra que o acontecimento foi destaque nos principais jornais e revistas do país. "No mesmo dia do acidente enviei uma matéria para o Diário de Pernambuco e eles tinham uma agência de notícias, então rapidamente vários outros veículos tomaram conhecimento da tragédia e enviaram seus repórteres para cá. Folha de S. Paulo, O Globo, Veja e Manchete foram alguns dos veículos que cobriram esse fato", conta.
Ele lembra que o acontecimento foi destaque nos principais jornais e revistas do país. "No mesmo dia do acidente enviei uma matéria para o Diário de Pernambuco e eles tinham uma agência de notícias, então rapidamente vários outros veículos tomaram conhecimento da tragédia e enviaram seus repórteres para cá. Folha de S. Paulo, O Globo, Veja e Manchete foram alguns dos veículos que cobriram esse fato", conta.
Agradecimentos ao amigo Rogério Santos pela dica e pelo envio do livro.
Fontes: Portal Correio, Paraíba Hoje e Opus Diaboli - A Lagoa e outras Tragédias
Quando amanhecer, você já será um de nós...
Nenhum comentário:
Postar um comentário