O princípio de "Were creatures" ("alterador de forma", de onde deriva a palavra werewolf - ou lobisomem) é que certos animais inofensivos em sua forma original podem em determinadas situações se transformar em criaturas perigosas ou destrutivas, mudando completamente não apenas seu comportamento, mas também a sua aparência.
Contudo, existe um exemplo fiel de were-creature. Não estou me referindo a lobisomens, que segundo as lendas são homens que se transformam em lobos selvagens com sede de sangue. Felizmente, lobisomens continuam sendo seres lendários... (ao menos até que se prove o contrário).
Mas existe algo tão ruim quanto o lendário lobisomem. Algo cujo potencial para causar danos, destruição e afetar milhares de pessoas é maior do que o de qualquer criatura concebida pela ficção. Se está em dúvida, pergunte aos pioneiros norte-americanos que se estabeleceram ao longo dos séculos XVIII e XX nas regiões inóspitas e desérticas do meio-oeste dos Estados Unidos. Naquela época não havia nada mais terrível, mais assustador, mais devastador para a vida daquelas pessoas do que uma... Nuvem de Gafanhotos.
Exagero? Ficção? Bobagem? Pense novamente...
Imagine a cena: uma família de pioneiros está cuidando de seus campos e de sua plantação. Fileiras de milho ou de outras culturas emparelhadas uma atrás da outra, plantadas ao longo da estação com muito suor e dedicação. De repente algo surge no horizonte alaranjado, uma nuvem escura que se move com designo e propósito.
A nuvem se aproxima com rapidez e de repente está sobre a fazenda. Milhares de grandes gafanhotos começam a cair do céu. Enormes, famintos, implacáveis! Os fazendeiros correm para atear fogo no mato, a fumaça é a única arma contra a nuvem viva. Às vezes, fumaça escura confunde os gafanhotos e eles são afugentados, mas na maioria das vezes, eles são muitos, e nada consegue afastá-los. Os insetos caem como uma tempestade sobre a plantação, quebrando os ramos com seu peso, atacando de uma só vez. Eles comem tudo em seu caminho, tudo que é verde é devorado em questão de horas. Toda árvore e arbusto limpa de suas folhas. E quando a nuvem parte, nada mais resta.
Essa era uma história comum nos velhos tempos. Há registros de nuvens de gafanhotos de proporções bíblicas viajando em uma área de 200 mil quilômetros quadrados do meio-oeste americano. Nada os detinha, nem fogo e nem veneno. Quando os fazendeiros tentavam colocar barreiras eles passavam através.
A cada ciclo de três a sete anos a coisa se repetia. As nuvens se formavam e colheitas inteiras eram dizimadas. Incontáveis famílias foram levadas a miséria e a ruína pela ação dos gafanhotos, perdiam tudo que tinham do dia para a noite. E depois de atacar, os gafanhotos simplesmente desapareciam. Diante disso as pessoas se perguntavam: "Onde diabos esses animais se escondem ou de onde eles aparecem em primeiro lugar?"
A falta de respostas fazia muitos fazendeiros acreditarem que as nuvens de gafanhotos eram um Sinal de Deus que estava de alguma forma insatisfeito. Em meio ao isolamento e a desgraça, as pessoas buscavam explicações metafísicas para os acontecimentos do dia a dia. Além do mais, nuvens de gafanhotos eram citadas na própria Bíblia como um dos castigos de Deus ao povo do Egito. Se as nuvens estavam surgindo no meio-oeste, sem dúvida os pobres fazendeiros teriam de alguma forma desagradado ao todo-poderoso.
Ou será que havia outra explicação?
A questão só foi respondida em 1921, quando um entomologista chamado Boris Uvarov começou a estudar o comportamento dos gafanhotos e ligou o ciclo de vida deles ao de outro inseto completamente diferente. Uvarov começou a perceber um comportamento curioso em uma espécie de grilo. Embora os grilos sejam diferentes dos gafanhotos havia uma espécie com hábitos diversos de todos os outros grilos. Ele observou esses grilos da pradaria e descobriu algo incrível... ele encontrou uma were-creature!
Os grilos da pradaria possuem um ciclo de vida compreendido em três fases. Uvarov dividiu esses ciclos como solitário, transacional e social.
Na fase solitária os grilos vivem por conta própria e são basicamente os grilos que se encontra na natureza. Pequenos, verdes e presos ao chão. Suas asas são pequenas e eles são incapazes de voar grandes distâncias. A cor deles tende a ser verde ou um tom amarronzado que reflete o fato dele viver nas pradarias.
Quando o ciclo solitário se encerra, os grilos começam a competir por recursos e muitos morrem de fome. Os insetos entram então na fase transacional. Eles se tornam mais escuros. As fêmeas começam a procriar em grande velocidade, depositando ovos no solo, ovos estes que são mais resistentes do que qualquer ovo normal de grilo das pradarias.
A fase social é a que apresenta a dramática mudança. Como um homem que na lenda se torna um lobisomem, o grilo da pradaria sofre uma transformação e vira algo muito diferente. Os ovos das fêmeas transacionais eclodem dando origem aos gafanhotos. As proporções do corpo e da cabeça são muito diferentes, um gafanhoto é quase quatro vezes maior do que um grilo, as asas são grandes, adaptadas ao voo de longas distâncias. A cor deixa de ser o verde que ajuda na camuflagem, os gafanhotos são escuros, alguns negros outros com uma coloração alaranjada. Para todos os efeitos são insetos completamente diferentes.
Mas não apenas a aparência se difere. Essas criaturas nascem com um comportamento diverso, sua defesa comportamental é ficar em grupo. Quando uma ninhada surge eles são tão numerosos que nada na natureza é capaz de competir com eles em voracidade. As nuvens são compostas de milhões de indivíduos todos eles dotados de uma mente comunal, agindo como se fossem uma única e colossal entidade. Imagine uma nuvem formada de milhões de indivíduos, capaz de preencher quilômetros quadrados do céu, com um peso estimado de toneladas. Rápida, implacável, indestrutível... a Bíblia estava certa em chamá-los de a mais destruidora das pragas.
Felizmente esses animais são vegetarianos e não são venenosos, embora a fisiologia de alguns contenha toxinas que em grande quantidade podem matar.
A fase social faz com que a população de gafanhotos atinja proporções inacreditáveis. Estima-se que havendo alimentos para sustentar as nuvens não há praticamente limite para se crescimento exponencial. No passado, nuvens podiam ser tão grandes que podiam cobrir o estado da Califórnia por inteiro.
Mas quando a comida começa a faltar, os gafanhotos passam adiante sinais químicos, como uma alerta que os avisa para parar de procriar. Imediatamente a população começa a diminuir e as nuvens debandam. A ameaça desaparece como se não tivesse existido. Os gafanhotos fêmeas colocam ovos que eclodirão com os simples grilos da pradaria. A were-creature após saciada, reverte a sua forma pacífica, assim como nas lendas.
Uvarov provou a transição entre duas espécies distintas na natureza e conseguiu através de sua descoberta conter o flagelo. Até então os fazendeiros batalhavam contra os gafanhotos, a forma "bestial" do grilo da pradaria. O cientista mostrou que, como as were-creatures, era mais fácil combater sua forma mais gentil.
Mantendo a população de grilos baixa, os gafanhotos simplesmente não surgiam. Inseticidas e métodos de esterilização foram colocados em prática e a população de grilos das pradarias despencou. A última onda de ataque de gafanhotos no meio-oeste americano ocorreu em meados de 1930. A extinção de uma espécie animal, via de regra, é algo ruim, mas nesse caso trouxe benefícios para todos os habitantes.
Nuvens de gafanhoto sumiram na América, mas em outras partes do mundo elas ainda costumam aparecer. Na África Oriental elas são responsáveis por flagelos de fome e destruição em larga escala.
Há cerca de um mês, uma nuvem de gafanhotos de proporções colossais atacou o Leste do Egito e se deslocou para o Oriente Médio causando estragos em Israel e na Península da Arábia.
Como aconteceu no passado, a despeito dos métodos de contenção e tecnologia, nada foi capaz de deter a Nuvem de Gafanhotos.
Fonte: Mundo Tentacular
E assim foi inventado o lança-chamas...
ResponderExcluirOtimo texto, curti muito
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