Coletar a cabeça do inimigo sempre foi um gesto intimidador, e isso não era raro nas Américas, mas em uma decapitação pode haver muito mais significado do que a simples intenção de amedrontar: poderia haver arte e até respeito, segundo um novo estudo que foi enviado para o blog Noite Sinistra pelo amigo e colaborador Elson Antonio Gomes.
O antropólogo e geólogo André Strauss, junto com o bioantropólogo da USP Walter Neves e outros onze colaboradores acabaram de publicar um artigo na revista científica "Plos One" em que descrevem a mais antiga decapitação já registrada na história do Novo Mundo, que teria ocorrido há mais de 9.000 anos na região da atual Matozinhos, cidade de Minas Gerais a 50 km da capital Belo Horizonte.
O que os arqueólogos acharam enterrado a mais ou menos meio metro de profundidade foi uma cabeça sem corpo e com as mãos dispostas "em oposição" uma à outra: a mão direita foi colocada sobre o lado esquerdo da face, com os dedos apontando para o queixo e a mão esquerda estava sobre o lado direito, apontando para a testa.
O "povo de Luzia" (em homenagem o fóssil de uma das mais antigas brasileiras já achadas, de 11.400 mil anos) é conhecido também por um certo aspecto artístico presente em sua cultura funerária.
Por exemplo, já foi encontrado um crânio cujo conteúdo foi preenchido com ossos que pertenciam a outra pessoa, além de túmulos de adultos com crânios de criança e vice-versa.
Uma das coisas mais surpreendentes da decapitação, segundo Strauss, é a precisão com que ela foi feita. "Arrancar uma cabeça com um machadão no estilo 'Game of Thrones' é fácil, mas no paleolítico, com ferramentas de pedra, era um trabalhão. Eles não tinham metal".
Na opinião dos autores, a visão eurocêntrica geralmente busca descrever decapitações como decorrência de ações violentas entre grupos. No caso da cabeça do sepultamento 26, porém, os cientistas apostaram em uma explicação mais pacífica para o ritual.
Uma das evidências é que o crânio não foi foi perfurado –nos furos passariam alças que indicariam que a cabeça poderia ser carregada de um lado para outro, como um prêmio.
Outra são as lesões pós-morte nos ossos, mostrando que "eles sabiam o que estavam fazendo", diz Strauss.
Por último, o cuidado com a simbologia das mãos, que provavelmente foram amarradas com algum tipo de corda e que dificilmente teriam sido colocadas naquela posição "por acaso".
"Imagino que o morto do sepultamento 26 fazia parte da comunidade local, e provavelmente era respeitado, talvez até algum tipo de chefe", diz Strauss.
Depois de cortar as partes moles do pescoço com lascas, a cabeça era torcida até os tendões arrebentarem e, finalmente permitir a separação do corpo. "Eu mesmo fiz alguns experimentos com cabras e vi o quanto é difícil. Dá pra ouvir um estralo quando os tendões se rompem", conta o antropólogo.
Na opinião do pesquisador, o sítio arqueológico de Lapa do Santo, mesmo após tantos achados, ainda pode contar muito sobre a história humana no Brasil pré-histórico.
Outros povos pré-colombianos também tinham grande apreço por cabeças.
Há registros e antigos Incas que arrancavam a cabeça de desafortunados ainda vivos com violência. Elas participavam de rituais e eram depositadas próximo a pirâmides.
Outro exemplo seria um guerreiro morto por índios mudurukus, da Amazônia: ele teria sua cabeça cortada, esvaziada, mumificada, defumada, decorada e usada como adorno e amuleto para ajudar na caça e aumentar fertilidade.
Agradecimentos ao amigo Elson Antonio Gomes pela dica.
Fonte: Folha de São Paulo
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