Hoje voltamos a contar com a ajuda de uma leitora aqui do blog na criação de uma postagem. Mais abaixo os amigos e amigas poderão conferir a dica enviada pela nossa amiga Beatriz (@BeatrizL25) pelo Twitter. O texto fala de uma criatura que atormentou a cidade francesa de Gévaudan nos século XVI, e que acabou conhecida como "A Besta de Gévaudan".
No sul da França há uma Zona pertencente à região de Languedoc, uma zona chamada Gévaudan. Em Gévaudan a presença de lobos era frequente e eles sempre atacavam os rebanhos locais. Porém, os lobos não faziam mal algum às pessoas e só atacavam se fossem ameaçados.
As mortes
Em 30 de Junho de 1764 uma jovem de 14 anos chamada Jeanne Boulet é encontrada morta na região, com marcas que mostram se tratar de mordidas ou arranhões de algum animal. Esse caso atraiu atenção especial dos povos locais, pois teria sido a primeira morte causada por um lobo na região. O corpo da jovem foi encontrado próximo a um córrego onde ela havia ido encher um cântaro de água. Ela havia sido horrivelmente mutilada e seu coração, segundo as estórias, fora devorado pela fera.
Depois da morte da adolescente, outras tantas pessoas tiveram o mesmo fim trágico. Estima-se que entre 60 e 100 pessoas acabaram mortas pelo animal. Outras fontes afirmam que o número de mortes pode ter chegado a 200, mas é muito difícil averiguar de fato quantas pessoas sucumbiram perante ao animal.
Ninguém conseguiu ver a fera atacando, mas algumas pessoas que haviam escapado da emboscada armada pela criatura afirmavam que a fera era um lobo imenso, muito maior do que qualquer lobo antes visto. Segundo os relatos o animal teria o tamanho de burro, ou uma vaca de pequeno porte. Algumas fontes afirmam que a criatura seria dotada de cascos ao invés de patas de lobo, mas essa descrição não poderia ser válida, afinal de contas algumas das vítimas apresentavam marcas de ferimentos provocados por garras.
O primeiro encontro relatado com a fera aconteceu em maio de 1764, ainda antes da morte de Jeanne Boulet, na floresta de Mercoire próximo de Langogne na porção oriental de Gévaudan. Uma jovem que cuidava de seu rebanho de gado percebeu uma forma escura espreitando em meio aos arbustos. Ela contou que a fera saltou da mata investindo contra os animais, mas os touros conseguiram mantê-lo à distância com seus chifres. A criatura atacou por uma segunda vez lutando contra os touros, um comportamento incomum para um lobo, mas foi repelida novamente. Os animais conseguiram ganhar tempo suficiente para a mulher apavorada escapar e chegar até seu vilarejo, onde ela contou o que havia acontecido. Os homens da vila se armaram e foram até o local, encontrando alguns animais feridos, mas nenhum sinal do lobo.
Em virtude do grande número de ataques e vítimas fatais, alguns começaram a suspeitar que haveria mais de uma fera, um par ou quem sabe até uma alcateia dos temíveis animais. De fato, algumas testemunhas relatavam ter avistado a fera no momentos em que ela era vista em outro lugar. Alguns também diziam ter visto o enorme lobo andando com outros animais menores que ele parecia liderar. Os relatos se multiplicavam e um estranho boato começou a se espalhar: o de que a fera seguia as ordens de um homem misterioso todo vestido de couro preto que apontava as pessoas que a fera deveria matar. Para alguns era um nobre decadente que tornava o assassinato seu esporte, para outros era o próprio diabo.
As crenças na besta sobrenatural
A medida que a Besta de Gevaudan continuava a matar sistematicamente, as pessoas começaram a acreditar que por trás das suas ações havia algum componente sobrenatural. Caçadores perdiam o rastro da fera no meio da floresta, armadilhas eram ignoradas, armas pareciam negar fogo e os mateiros não entendiam como um lobo tão grande era capaz de se esquivar de todas as buscas. A habilidade da criatura em sobreviver a todas as tentativas de eliminá-la e o fato dela preferir matar mulheres parecia algo claramente sobrenatural. Os camponeses passaram a acreditar que não estavam enfrentando um simples lobo, mas um loup-garou, um lobisomen. Apesar de todas as providencias para aumentar a segurança erguendo cercas e acendendo tochas durante a noite, não havia sinal da fera diminuir a sua sede de sangue.
Em outubro de 1764 dois caçadores retornaram das matas da região contando uma estranha história que acabou colaborando com a crença de que a criatura teria poderes sobrenaturais. Eles afirmaram terem atirado contra a besta, que se encontrava a cerca de 10 passos de distância, mas nenhum dos projéteis foi capas de derrubar o animal, que acabou correndo para a floresta enquanto a dupla recarregava as armas. O relato poderia muito bem ser encarado como uma fábula de bravura e coragem fantasiosa, mas o desespero local era tão grande que a história/estória acabou sendo usada para provar a crença de que a criatura tinha poderes sobrenaturais.
O relato da dupla de caçadores causou tanto impacto na região que organizou-se um grupo de caça para ir até o local em que os caçadores afirmaram ter encontrado a besta. Esse grupo de caçadores encontrou facilmente os rastros de sangue adentrando o bosque, exatamente no local em que os homens haviam alvejado a criatura. Diante da quantidade de rastros, todos acharam que seria questão de tempo até encontrarem a carcaça da fera em algum ponto da floresta. Os homens entraram na parte mais profunda da mata, onde descobriram vários corpos de vítimas até então desaparecidas, mas nenhum sinal da fera responsável por aquele massacre. Quando se preparavam para retornar, o lobo surgiu sorrateiramente, investindo contra os homens e fazendo mais quatro vítimas fatais. Os sobreviventes contaram que dispararam inúmeras vezes, acertando o alvo, mas cada vez que a besta era baleada, se levantava para atacar novamente. Aterrorizados, os homens fugiram sem olhar para traz.
Começa uma gigantesca caçada
O chefe da milícia local, o Capitão Duhamel foi incumbido pelo próprio Rei Luis XV de encontrar e eliminar a ameaça responsável por deixar os camponeses em um estado de terror tamanho, que colocava em risco as colheitas. Duhamel organizou uma enorme grupo de voluntários formado por dezessete caçadores experientes montados à cavalo, um estoque de mais de 40 mosquetes previamente carregados e uma parelha de mais de trinta cães de caça. O grupo chacinou todos lobos que viviam na região. Segundo contas, mais de 200 animais foram mortos, mas nenhum deles se parecia com a elusiva Besta de Gevaudan.
Finalmente em novembro, o grupo de Duhamel avistou a fera e a perseguiu pela floresta, mas a perdeu em uma área onde os cavalos não conseguiram adentrar. Seguindo à pé, os implacáveis caçadores não se renderam e depois de encontrar com o enorme lobo em uma clareira dispararam contra ele supostamente o alvejando repetidas vezes. Ainda assim, a fera conseguiu escapar para dentro do bosque. O grupo acreditando que o animal não poderia sobreviver a todos os ferimentos infligidos retornou a Gevaudan onde foram recebidos como heróis.
Dias se passaram sem nenhuma notícia da fera, até que no final de dezembro, perto do Natal, mais uma mulher desapareceu. O grupo de busca localizou os seus restos terrivelmente mutilados em uma ravina: o pesadelo continuaria. A credibilidade do Capitão Duhamel caiu por terra e ele foi destituído depois que um dos seus homens de confiança quase foi linchado por uma multidão furiosa.
A história de terror que acometia Gévaudan chegou a Paris. O Rei Luis XV acabou oferecendo uma generosa quantia em dinheiro ao caçador que conseguisse abater a besta. Isso acabou trazendo a França uma número imenso de caçadores vindos de diferentes partes da Europa. Alguns caçadores agiam de má fé tentando ludibriar as autoridades reais. Um homem chegou a apresentar a carcaça de um animal estranho e incomum, alegando que havia abatido a criatura após uma épica caçada. O mestre de caça, reconheceu os restos pelo que eles de fato eram, uma hiena, que aparentemente havia sido trazida do norte da África.
A morte de uma criatura
Em 21 de setembro de 1765, finalmente uma notícia boa: uma suposta besta é abatida por Antoine de Beauterne, um renomado taxidermista de Paris, que já havia realizado caçadas em diferentes partes do mundo.
O grupo de caça liderado por Antoine conseguiu encurralar a fera. Foram disparados um grande número de tiros contra o animal. O golpe que matou definitivamente o animal foi uma machadada na cabeça.
Tratava-se de um lobo nunca visto antes, que media 183 centímetros de comprimento e 87 de altura, com esse tamanho, ao ficar de pé ele se tornava mais alto do que uma pessoa. O animal pesava cerca de 90 quilos.
Beauterne tentou preservar a criatura a fim de levá-la até o Rei, mas apesar de seus esforços, a carcaça havia recebido muitos danos durante a caçada. Tudo o que ele conseguiu salvar foram as orelhas, os dentes e o rabo, todo o resto foi queimado e enterrado nos arredores do vilarejo.
Antoine foi recebido como herói e logo tornou-se rico e famoso.
Mortes voltam a acontecer
Por mais de um ano, as coisas ficaram tranquilas em Gevaudan e a vida foi voltando ao normal. Então, na primavera de 1767 as mortes reiniciaram. Duas crianças haviam desaparecido e o corpo de uma mulher sem a cabeça foi achado em um descampado. Beauterne foi chamado para retornar a Gevaudan, mas ele afirmou que aquelas mortes não eram o trabalho de um lobo, e sim de um maníaco.
Com o tempo o retrato da besta foi mudando, e agora se tratava de um homem lobo ou um homem que virava um lobo.
Em 19 de junho de 1767 uma segunda criatura é morta, dessa vez por um caçador chamado Jean Chastel. Chastel disse que matou a criatura usando uma bala de prata que foi benzida por um padre.
Ao abrirem o estômago dessa fera encontraram restos humanos. Chastel se tornou muito famoso por ter dado fim a segunda leva de ataques.
A besta foi embalsamada e levada de cidade em cidade para que as pessoas pudessem vê-la, em troca de uma pequena contribuição, é claro. Infelizmente para a ciência moderna, os métodos de preservação da época não eram bons o bastante e o que restou da fera acabou chegando até Paris em um estado deplorável. O fedor incomodou o Rei de tal forma que ele ordenou que os restos fossem levados de sua presença imediatamente. Há informações contraditórias a respeito do que aconteceu com a Besta então. Para alguns ela foi queimada e suas cinzas espalhadas ao vento, apesar dos protestos de Chastel. Outros dizem que a carcaça chegou a ser levada até o genial taxidermista Beauterne que restaurou a fera e a vendeu para um nobre colecionador.
Seja como for, os restos da lendária Besta de Géaudan jamais foram recuperados, causando mais de dois séculos de controvérsia a respeito de sua real identidade. Em 1960, após estudar a transcrição de Antoine de Beauterne a respeito do processo de dissecção da fera por ele abatida, uma comissão de zoólogos concluiu que o animal descrito era realmente um lobo. Franz Jullien, taxidermista do Museu Nacional de História Natural de Paris, encontrou amostras dos dentes da Besta de Gevaudan guardadas no arquivo do Museu e as submeteu a testes, concluindo que se tratavam realmente de presas de um lobo de grande porte. Em 1979, restos de um animal empalhado foram encontrados guardados no depósito do museu em uma caixa. Segundo boatos, seriam os restos do espécime que Jean Chastel abateu com suas balas de prata. O animal foi aparentemente identificado como uma hiena nativa do Norte da África, Oriente Médio, Paquistão e Oeste da Índia.
Documentário do History Channel aponta para farsa de Chastel
Em 2009, o History Channel exibiu um programa chamado "The Real Wolfman", onde o caso de Gévaudan foi investigado cuidadosamente. No programa, foi mostrado que provavelmente a fera que causou os ataques era algum animal domesticado que estava sobre ordens de um homem. Um lobo, segundo o programa, seria impossível de se domesticar. Um cachorro não teria foça o suficiente na mordida para quebrar ossos do jeito que a fera quebrou.
Por fim, chegaram a conclusão de que o animal domesticado teria sido uma ou mais Hiena(s).
Essa hipótese havia sido levantada pelo novelista Henri Pourrat e pelo naturalista Gerard Menatorv que propuseram a hipótese de uma hiena ter sido trazida por negociantes de animais e uma vez recusada em um zoológico, libertada na floresta. Há ainda outra hipótese que coloca em xeque a credibilidade de Jean Chastel. Segundo rumores, o pai de Chastel possuía uma hiena em sua menageria (um termo do século XVII usado para coleções de animais mantidos em cativeiro). Alguns pesquisadores acreditam na possibiliadde de Jean Chastel ter inventado a estória a respeito do loup-garou e usado a hiena que pertencia a menagerie de seu pai para se auto-promover.
Isso levanta a questão a respeito de quem seria então o responsável pelas mortes após Beauterne ter eliminado o grande lobo.
E por incrível que pareça, o homem que estava por trás dos ataques e que domesticou o animal foi Jean Chastel, segundo o documentário citado acima.
Jean afirmou ter matado a fera com apenas um tiro de bala de prata no coração, um tiro certeiro. Foram feitos testes com os melhores atiradores usando espingardas (arma que Jean usou) e balas de prata. Os testes provam que a bala de prata é muito menos certeira e destrutiva do que a bala convencional, de forma que seria quase impossível um homem acertar o coração da fera em apenas um tiro usando espingarda e bala de prata. E se acertasse era capas de que o projétil nem perfurasse o coração, pois a bala de prata é pouco destrutiva.
Isso seria a prova de que provavelmente o animal era domesticado, de forma que foi treinado para chegar perto de Jean e ficar parado para que o caçador pudesse lhe dar um tiro certeiro no peito. Assim, Jean levaria o crédito de ser o assassino da fera e ficaria rico e famoso.
Mas nada prova que isso é 100% verdade e acredita-se que houveram várias bestas. Além do mais, o relato das testemunhas passa longe de se encaixar em uma hiena, o que poderia indicar que a primeira criatura de fato era um lobo selvagem que causou todas as mortes relatadas, e a segunda leva de ataques teria sido provocada por Jean Chastel, com o intuito de ficar famoso e rico pelos seus feitos como caçador.
Esse caso deu origem à lenda dos lobisomens e àquela história de que só morrem com tiro de bala de prata. A morte de todas essas pessoas é real e realmente foi uma ou mais feras que causaram isso.
Fontes: Criptomania e Mundo Tentacular
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Excelente matéria! Há um filme em exibição na TV a cabo, acho que intitulado A Fera, com Mark Dacascos e Vicente Cassel que eu acredito que foi baseado nessas histórias visto ser ambientado nesse período na França.
ResponderExcluirUm detalhe que os Europeus sempre esquecem quando pessoas são atacadas nas florestas ou lugares remotos, é que existia e existe ainda em algumas regiões uma fera extremamente perigosa e capaz de retalhar um ser humano quando ataca. Muito mais perigosa do que um lobo gigante ou mesmo uma alcateia, ou talvez um urso...Essa fera costuma andar em bandos, mas os machos quando tem porte avantajado permanecem sempre sozinhos devido ao temor de sua ferocidade até pela sua própria espécie. E pelo que sei esporadicamente tem atacado ainda hoje em dia pessoas incautas, estou falando do JAVALI europeu.
Continuem com estas ótimas matérias.
Este comentário foi removido pelo autor.
Excluirhttps://www.youtube.com/watch?v=DDihNTAyAHw
ResponderExcluirGrato pelas dicas galera...com relação ao documentário ele sera publicado em um espaço especial aqui no blog...
ResponderExcluirA história é contada no excelente filme francês O PACTO DOS LOBOS! Recomendo que assistam!
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