No dia 20 de setembro ocorre um importante feriado no estado do Rio Grande do Sul. O dia remete a Revolução Farroupilha, mas atualmente esse feriado é o dia de homenagear a tradição e folclore tipicamente sulista. Eu como bom filho do estado mais meridional do Brasil (apesar de contrariar meus conterrâneos no que diz respeito a gostar de frio), resolvi trazer para vocês algumas lendas e histórias ambientadas na cidade de Piratini, que seria a capital dos revolucionários Farroupilhas. Convido a todos a conhecerem mais um pouco da história e do folclore gaúcho.
Proclamação da república de Piratini
Basicamente a revolução Farroupilha se iniciou por causa dos altos impostos cobrados pelo governo imperial brasileiro sobre o charque gaúcho e divergências políticas. Foi prometida a liberdade a todos escravos, caso a revolução tivesse êxito, e o estado se emancipasse do Brasil, formando assim um país onde todos seriam naturalmente livres.
Em 20 de setembro de 1835, os farroupilhas, liderados por Bento Gonçalves, venciam o confronto da Ponte da Azenha e entravam na província de Porto Alegre. Iniciou-se a Guerra dos Farrapos, o mais duradouro conflito armado da história do Brasil, que resultou na declaração de independência do Estado do Rio Grande do Sul, dando origem à República do Piratini, que durou cerca de sete anos.
A Guerra dos Farrapos, também chamada de Revolução Farroupilha, é o mais longo conflito armado ocorrido em território brasileiro (teve início em 1835 e terminou em 1845).
Atualmente o dia 20 de setembro é um dia festivo, reservado a vestir-se de roupas típicas, como as bombachas e os vestidos de prenda, tomar um bom chimarrão em uma roda de amigos (todo dia é dia de chimarrão para um bom gaúcho rsrs), homenagear o folclore local. É o dia de ovacionar tradições antigas, de preferência ao redor de uma fogueira de chão onde se prepara um belo churrasco, ao som de uma canção tipicamente gaúcha.
As lendas de Piratini
Não apenas os sobradões coloniais de Piratini emitem os ecos da Revolução Farroupilha, os quais podem causar arrepios nas pessoas mais sugestionadas ou divertir aquelas que procuram assombrações. Pelo que se conta na cidade e está registrado em livros, os farrapos deixaram outra herança: uma variedade de lendas, que oscilam entre a maldição e o encantamento.
O professor de história João Manoel Ferreira, 53 anos, pesquisou os motivos, palpáveis e anímicos, para a proliferação de lendas a partir do momento em que os farrapos escolheram Piratini para ser a capital da República Rio-Grandense. Terminada a revolução em 1845, o Império do Brasil tratou de castigar o povoado símbolo dos rebeldes, condenando-o ao ostracismo. Então florescente, com teatro, cervejaria e até gente que falava francês, foi rebaixado à condição de vila e murchou.
– Isso causou um trauma. Os moradores tiveram problemas, ficaram mais sensíveis – interpreta Ferreira.
A maldição do Padre
E as lendas foram brotando, tipo cogumelos, adubadas pelos nervos à flor da pele dos piratinenses que ficaram na vila. Uma das primeiras envolve o pároco da Matriz Nossa Senhora da Conceição, padre Manoel José Soares de Piña, que odiava os farroupilhas. Nas missas, imprecava contra os sediciosos do púlpito, xingava os fiéis simpáticos à conspiração e, consta, usava a palmatória (instrumento de punir crianças peraltas na escola) para impor suas ideias.
Quando os farrapos invadiram Piratini, em 8 de outubro de 1835, depuseram a guarnição local e foram tirar satisfações do padre resmungão. Piña não se intimidou. Manteve as críticas e disse que não arredaria pé da sacristia, pois obedecia somente ao Papa. Então, os revolucionários o colocaram no lombo de uma mula, velha e mancarrona, e o expulsaram da cidade sob gargalhadas.
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Indignado com a humilhação a que fora submetido, o sacerdote rogou uma praga contra Piratini. Ela foi coletada pelo professor Ferreira, que a reproduz tentando ser o mais exato possível à origem:
– Esta vila nunca será próspera. Um passo para a frente, outro para trás.
O praguejador possesso nunca mais voltou. Piratini realmente ficou longe dos trilhos do trem e, depois, das rodovias do progresso. Em compensação, manteve a aparência preciosa que lhe favorece o turismo histórico.
Naufrágio na Lagoa Negra
A lenda da Lagoa Negra também é conhecida, e teria raízes num acidente. Há mais de uma versão, a que preponderou mostra um viés satânico. É contada pelo pesquisador Ferreira, mais ou menos assim: um comboio de carretas tracionadas por bois voltava de Montevidéu, onde fora vendida uma carga de cerveja produzida pelo açoriano Lucindo Manoel de Brum, estabelecido em Piratini. O elegante prédio da fábrica existe, fica diante do Palácio de Governo, agora com outras serventias.
Na volta da viagem, as carretas traziam cerâmica, porcelanas e mercadorias uruguaias. Temendo salteadores e bandoleiros castelhanos, os carreteiros ocultaram o dinheiro da venda da cerveja dentro de guampas bovinas (então utilizadas como cantis de água ou cachaça). O truque já dera resultado antes.
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Ao se aproximar de Piratini, no entanto, os condutores das carretas apressaram o passo, para fugir de uma tempestade que já convulsionava as nuvens. Ao cruzar a Lagoa Negra (a cor é devida ao sombreamento provocado por árvores ao redor), um deles teria estugado um boi exausto com a aguilhada, além de amaldiçoar o animal.
– Anda, diabo!
O carro de bois naufragou na Lagoa Negra, a 19 quilômetros de Piratini, no distrito do Passo do Alfaiate. O carreteiro afogou-se, e os chifres forrados de moedas de ouro se perderam na água. Dizem que foi obra do demônio, enfurecido por ter sido importunado.
O atual proprietário da Lagoa Negra, Alex Santos, 34 anos, sabe da lenda. Mediu a profundidade da água, com uma linha de pesca chumbada na ponta, alcançando a marca de seis metros. Alex nunca ouviu ruídos estranhos nem viu fantasmas, mas conta que pescadores relataram ter escutado gritos vindos da lagoa, de afogados que pediam socorro. Não se sabe o quão sóbrios eles estavam.
A estátua que vira cachorro
Piratini reserva uma surpresa aos que se encantam por lendas e soltam a pandorga da imaginação. É a história do cachorro que deixa de ser uma estátua durante a noite, pula do terraço de um sobrado e corre pelas ruas da cidade, os olhos em brasas, para vigiar o sono dos que dormem. Quando amanhece, o bicho já está de volta ao casarão na anterior imobilidade.
O cão que guarda Piratini nas madrugadas foi colocado no alto do Sobrado da Dourada, construído em 1830, o qual pertenceu ao médico francês José Afonso Gassier. O estrangeiro caprichou na arquitetura, importou azulejos da Europa, tudo para agradar a mulher, Florinda de Melo, que era neta do político farroupilha Vicente Lucas de Oliveira. Eles se casaram depois que a jovem Florinda ficou viúva.
Como todo cachorro, o do sobrado do francês é adorado pelos moradores. Vilmar Bitencourt, 74 anos, tem uma chácara ao lado, onde cuida de três cavalos. Ele conta que a última dona do casarão, já falecida, costumava pôr uma tigela com leite diante da boca da estátua, diariamente.
– Ela estava muito velhinha, caduca. Todos gostam do cachorro – diz Bitencourt, sargento reformado da Brigada Militar.
Ninguém caminha diante do sobrado sem prestar atenção no cachorro, sentado sobre as patas traseiras, na posição de quem está prestes a se movimentar. Alguns pedestres relatam que o animal vira a cabeça, se ouvir um assovio, mas João Carlos Ávila da Silveira, 49 anos, acha que é o efeito da cachaça.
– Quem bebe umas a mais diz que se mexe – brinca Silveira.
O Sobrado da Dourada foi útil à República Rio-Grandense, instalada em Piratini. Nos fundos do prédio, funcionava a fábrica de pólvora e fogos de artifício dos irmãos Gonzaga, conhecidos por “os fogueteiros”.
Moça de branco caiu na cacimba
Mas há uma lenda em Piratini que entristece e comove, pelo desenlace trágico que teve. Uma moça formosa apaixonou-se por um peão de estância, num romance proibido que acabou descoberto pelos pais. Eles desejavam que namorasse um rapaz de posses, mas a filha desobedeceu.
Em uma novela que poderia lembrar Romeu e Julieta, a moça insistiu na relação clandestina e marcou um encontro com o peão nas proximidades da Cacimba da Carretela – referência ao carretel que suspende a corda do balde para puxar água. Ao saber, o pai mandou atirar no moço pobre, que teria escapado ferido. Imaginando que o amado morrera, a moça jogou-se dentro da cacimba, afogando-se.
A partir de então, certos moradores passaram a ver o vulto de uma mulher de branco – a noiva desventurada – irrompendo da embocadura do poço nas noites de Lua Cheia. A condutora de turismo Eliane Peroba Cardozo, 28 anos, tem uma suposição.
– Ela faria isso para abençoar os casais enamorados – conta.
Morando perto da Cacimba, o aposentado Manoel Orgírio Andrade Porto, 72 anos, nunca viu o fantasma. Na juventude, apesar dos receios, espiava o poço, ávido por conhecê-la.
– Vá que ela fosse bonita! – comenta.
Fontes: ClicRbs e Como Tudo Funciona
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Muito legal sua postagem 'Adm', excelente!
ResponderExcluirA história das tradições gauchas são muito ricas, assim como de todo Brasil, mas a grande diferença, pelo menos no meu ponto de vista, é que o Rio Grande do Sul é um dos pouquíssimos estados brasileiros que dão o verdadeiro valor as suas tradições.
Não sei se vc vai gostar,mas deixo este vídeo para complementar: https://www.youtube.com/watch?v=kH-GpOHRNgc
Adorei saber mais sobre essas lendas gaúchas! Parabéns ^^
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