Olá amigos e amigas...É com grande prazer e satisfação que hoje eu publico mais um conto da nossa querida leitora Giulia Fontana Pena. A Giulia já contribuiu anteriormente com o blog Noite Sinistra, enviando o conto Um fato na vida de um Depravado (clique aqui para acessar). Admiro enormemente a forma com que a Giulia escreve, e como eu disse nos comentário do último conto que ela nos enviou, quem sabe as páginas do Noite Sinistra não estão sendo testemunhas de alguns materiais de uma futura grande escritora...
A Gralha
Era noite. Solitário eu me deitava no interior de uma cabana. Pensava, na ocasião, em coisas diversas: amores perdidos, razões metafísicas, teoremas não resolvidos... Não importa. Uma febre causada pelo afã das ideias levava-me ao delírio e, pouco a pouco, pensamentos transformaram-se em sonhos fantásticos... Lembro-me de ter ouvido piar uma gralha e tal som pareceu-me doce como a voz de uma donzela.
“Luciana!” Murmurei. E da cabana saí correndo como quem corre para a liberdade ou para a felicidade.
Tamanha era a beleza que via na sombria paisagem da mata, outrora assustadora, que lágrimas de comoção verteram de meus olhos e doces lembranças de momentos que não voltarão vieram-me à mente.
“Luciana!” Voltei a chamar extasiado com minhas próprias memórias.
Parei diante de um lago, cujas águas quietas refletiam, tal qual plano espelho, a luz inicialmente refletida pela Lua, que estava cheia. A visão do astro tocou-me a alma, da mesma forma que ma tocam os versos de uma ardente poesia. Fiquei, não sei por quanto tempo, a contemplar a imagem de tudo o que havia ao meu redor formada na superfície daquela porção de água.
“Luciana!” Impossível não evocar, diante da Natureza tão bela, o nome da mulher amada.
Ouvi novamente o pio da gralha e pude localizá-la em um galho, pouco acima de onde eu me encontrava. Fiquei feliz por não mais estar sozinho. A ave, porém, voou, mas como não atingira uma altura muito elevada e continuava a piar, pude segui-la correndo.
Paramos em um lugar que não me era estranho, um cemitério abandonado. O pássaro estava agora pousado em uma lápide coberta por tanto musgo, que apenas o primeiro nome do defunto era visível.
“Luciana”. Li em voz alma. Sim, sob o chão em que eu pisava, deitava-se a virgem que sonhei em longas noites de agonia e que a mesquinha Morte, tão bruscamente, arrancara de minhas esperanças.
Ajoelhei-me sobre o túmulo e derramei as mais fervorosas lágrimas da minha vida. A febre aumentou a ponto de o delírio tornar-se mais intenso e todo o meu corpo estremecer.
O pio da gralha assumiu novamente as notas de uma voz feminina. Vivo sinal de metempsicose? Nunca soube dizer. Em seguida, o animal voou para longe. Desta vez não me dei ao trabalho de tentar descobrir para onde, sentia-me fraco e minha cabeça doía horrivelmente.
Deitei-me sobre o túmulo enquanto chorava e, então, uma linda jovem descalça e trajando um vestido simples surgiu de entre as árvores e se sentou ao meu lado.
“Luciana?!” Pronunciei alucinado.
A jovem sorriu, afagou-me os cabelos, beijou-me a testa e ficou ali comigo, sem dizer-me qualquer coisa, enquanto entoava um canto incompreensível e belo no qual meu coração deleitou-se. Ah! Quão doce foi passar a noite ao som de tão pura e bela melodia e tendo, diante de mim, o espectro da musa dos meus mais intensos sentimentos.
A visão evaporou-se quando veio a aurora e eu, novamente sozinho e melancólico, voltei para a cabana. Nunca soube se os eventos daquela noite foram sonhados ou de fato vividos, sei apenas que, antes de recolher-me, se espiar pela janela, sempre verei uma gralha pousada em alguma árvore próxima.
Autora: Giulia Fontana Pena
Conheçam a nossa amiga que escreveu o conto acima...
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Quando amanhecer, você já será um de nós...
Muito bom esse conto. Vô ler o outro também
ResponderExcluirparabéns para a ecritora