Salve salve amigos e amigas...Ontem pudemos conferir mais uma lenda brasileira, mais precisamente uma lenda da cidade de Belém, Pará. Essa lenda foi enviada para o blog pelo amigo Hyldon Bosco Ferreira e Silva, que também enviou um conto de terror inspirado na lenda da mulher do Táxi (clique aqui para recordar). Como prometido ontem, hoje eu vou publica o conto do nosso caríssimo amigo Hyldon. Aproveitem...
O CONTO: A DAMA DO TÚMULO
Este conto é dedicado a todos os
fantasmas; a essas
criaturas tristes e solitárias, que alegram minhas madrugadas.
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UDO COMEÇOU NAQUELE DIA, QUANDO
CHEGUEI ATRASADO AO ENTERRO...
O enterro estava marcado para às quatro horas da tarde; porém, cheguei às seis da tarde ao cemitério. Não havia mais quase ninguém naquela velha cidade da morte. Aproveitei então para dar um pequeno passeio pelas redondezas, por aquelas últimas moradas. E após andar por alguns minutos, por entre aquele imenso labirinto da morte, encostei-me, casualmente, em um velho túmulo para fumar um cigarro. E enquanto fumava, pus-me a examinar o local. Olhei então para o túmulo que estava em minha frente. Vi sobre a lápide uma foto de mulher, de uma bela mulher que aparentava estar na flor da idade, vestida em seu belo vestido. Vestido que deve ter lhe acompanhado em alguns momentos mais felizes de sua vida, mas que agora jazia sob o frio daquela pequena construção de mármore.
O túmulo
aparentava ter sido abandonado por seus familiares, há algum tempo. E, em
alguns lugares, o mato crescia, como o terrível símbolo do esquecimento que
inevitavelmente causa a morte. Olhei ao redor, todos os túmulos ostentavam flores,
menos o dela. E, ao olhar, vi uma pequena árvore, que embora pequena,
transbordava de flores. Apanhei algumas e pus sobre seu túmulo, dizendo: “Que a
uma dama jamais se negue flores!”.
A tarde já se
esvaia em um maravilhoso tom vermelho, como as últimas gotas de sangue de uma
lenta e pálida hemorragia, quando me despedi daquele túmulo, caminhando,
cruzando o cemitério, em direção de sua saída. E por mais que andasse por
aquelas avenidas lúgubres, não conseguia pôr-me em direção a saída. Olhava o
céu agora já em um tom azul marinho, que aos poucos tornava-se escuro. As luzes
do cemitério se acendiam, e mal clareavam o caminho. Foi quando me senti preso
em um labirinto. Em um labirinto de pequenos cubículos, que eu sabia que não
estavam vazios. A sensação de não estar sozinho evadia minha alma, que ao
cruzar pela terceira vez a mesma avenida, me desesperava... Olhei e senti algo
familiar naquela avenida; era a avenida que abrigava aquele velho túmulo.
Dirigi-me então para o mesmo. Observei que as flores já não estavam mais sobre
ele. E que havia naquele rosto, da foto, detalhes que não havia antes visto,
como um leve sorriso, que agora despontava daquele belo rosto. Pude ler então
seu nome: Josefina. Imediatamente, pus novamente as flores no lugar e segui o
meu caminho...
O cemitério
estava agora totalmente vazio; nem uma voz se ouvia, somente o vento por entre
aquelas construções sem vida. E ao cruzar pela quarta vez por aquela, agora,
familiar avenida, percebi que estava andando em círculos. Decidi então cruzar
pelo velho túmulo e seguir em linha reta, adiante, sempre adiante, tentando
lembrar o caminho seguido antes. E ao passar novamente pelo túmulo, reparei que
as flores não estavam novamente lá. Pensei no vento, e na possibilidade deste
as ter derrubado; e pus novamente elas no lugar. Foi quando, curiosamente,
olhei novamente para a foto. Além do leve sorriso, pude ver agora um suave
olhar para mim. As luzes pareciam terem feito seu semblante mudar,
acrescentavam agora um delicado piscar. E, de repente, pude ouvir, então, uma
ofegante respiração, por entre os túmulos, aumentando... aumentando...
aumentando... Até que, uma mão pôs-se sobre meu ombro. Um imenso arrepio
percorreu por todo o meu corpo; virei-me então para olhar... Era um velho
coveiro, que dizia-me:
- O Senhor
está perdido? Estamos na hora de fechar.
- Sim, sim.
Vejo que perdi a hora – disse eu a este secretário dos mortos.
- Então,
favor, siga-me.
E assim,
segui-lo. E pude, finalmente, encontrar a saída, tão almejada.
* * *
À noite, mal
pude dormir, pensava no meu amigo, na sua morte, na falta que me faria, e em
não ter podido, dele, me despedir. E, nas poucas vezes que conseguia dormir,
sonhos evadiam minha mente. O mesmo sonho recorrente. Sonhava com a mulher do
túmulo, vestida em seu belo vestido branco, rodopiando em um grande salão
antigo, com grandes janelas e cortinas de veludo vermelho e, no teto, um grande
lustre cor de prata, clareava o ambiente, que explodia em alegria. Ela dançava
com alguém, em meio a dezenas de casais que dançavam com leveza e graça. E ao
rodopiar ao lado de um imenso espelho, pude ver que o cavalheiro, com quem ela
dançava, era eu, vestido em trajes antigos, também. Espantado, soltava suas
mãos e tentava fugir do salão. Porém, os casais, rodopiando ao redor do mesmo,
não me deixavam sair. Ela olhava-me, chamando-me com suas mãos estendidas. Os
casais ao redor, ao passarem ao meu lado, diziam-me: “Vamos Bosco, dance com
Josefina Conty”.
Naquela noite
acordei assustado; minha alma transbordava o negrume da morte, pois algumas
pessoas que tinha visto no sonho já tinham a muito morrido; eram parentes e
amigos. Lembrei-me de ter visto também entre eles Raimundo, o amigo
recentemente falecido.
Passei todo o
dia pensativo. Liguei para a mãe de Raimundo, e me desculpei por não ter
chegado a tempo ao seu enterro. Pedi seu último endereço e prometi visitá-lo,
imediatamente.
À tarde, como
prometido, voltei novamente ao cemitério, desta vez para visitar o túmulo de
meu amigo. Levava comigo algumas garrafas de vinho, flores e o mapa do
cemitério, que peguei com a portaria. Desta vez não me perderia...
Após visitar o
túmulo do amigo, e depositar em seu túmulo flores e uma garrafa de vinho, em
nome das noites de boêmia, fui compelido, por uma curiosidade mórbida, ao
visitar o túmulo da bela dama morta.
Ao chegar,
surpreendeu-me verificar que as flores não estavam murchas, mas organizadas e
umedecidas em um vazo sobre seu túmulo. Lembrei-me então do sonho; e curioso
verifiquei seu nome. Percebi então que seu nome se deteriorara, permanecendo
apenas o nome Josefina. Depositei novas flores; observei sua foto por alguns
minutos, e, em seguida, voltei para casa.
* * *
À noite, novos
sonhos me assombraram. Sonhava novamente com a dama morta. Esta vinha à minha
cama agradecer-me pelas rosas depositadas. Chamava-me por meu nome: “Bosco...
Bosco... Bosco... obrigado pelas flores... Venha querido... Venha comigo”.
Levantei-me da cama, e, de mãos dadas, pus-me a caminhar ao seu lado. Ela,
levou-me para um outro quarto, de mobílias antigas e cama de colunas de
carvalho. Um quarto que não pertencia a minha casa. Beijava-me a boca, e
lentamente tirava o seu belo vestido; surpreendendo-me com um lindo corpo
lívido, que me extasiava, absorvido em um misto de delírio e prazeres contínuos.
Na manhã
seguinte, acordei-me nu e fraco, totalmente exaurido. Manchas de suor cobriam
ainda o leito, tantas vezes nele dormido. Lembrei-me dos sonhos eróticos de
minha infância. Porém, neste havia um sabor que nenhum outro tinha: um misto de
prazer e terror, que eu jamais tinha visto.
O dia
transcorreu sob uma angústia inquietante. Vozes e pensamentos me torturavam. Um
sentimento estranho de saudade me abalava. Tornava-me um ser com indisposições
estranhas e inexplicáveis.
Na noite
seguinte, após logo deitar-me e fechar os olhos, senti a sensação de parte do
colchão afundar, pouco a pouco, como se alguém cuidadosamente se deitasse ao
meu lado, não querendo me acordar. E ao sentir isso, virei a cabeça para
verificar, e ao olhar, verifiquei que não havia ninguém ao lado! Nesse momento,
o medo e o espanto apoderam-se de mim, e me perseguiram durante outras noites.
O medo que da próxima vez se repetisse e que a visão fosse terrível.
* * *
Seu túmulo não
saia de minha mente. Todos os dias, algo me compelia a visitá-lo. Uma obsessão
tomou conta de mim: um misto de prazer e agonia em observá-lo.
Sonhos evadiam
minha mente. Sonhava com ela, todas as noites. Sonhos lúbricos, e lascivos,
parecia nutrirem-se de mim. E quanto mais fraco eu tornava, mais forte os sonhos
ficavam; ao ponto de não mais saber se eram sonhos ou realidade.
Os floristas já me conheciam. Olhavam-me como
alguém que teria perdido um ente querido; do qual, da saudade, não conseguia se
desvencilhar.
* * *
Os dias
transcorriam em estranha normalidade. Porém, numa noite, enquanto estava no
banho, ouvi pequenos sons de pisadas pela casa. Pareciam com sons de passos
femininos, que pisavam com suavidade. Imediatamente sai do banho, para
verificar de onde vinham. Nada vi, exceto um vulto branco que cruzou-me próximo
ao quarto. Estranhamente minhas roupas não estavam onde eu as tinha deixado.
Procurei, por elas, por todos os lados. Por fim, encontrei-as no cabide, bem no
escuro do quarto. Então, ao apanhá-las, um imenso calafrio invadiu minha alma, e
tombei ao chão desmaiado... Ao acordar, tudo estava escuro. Porém, ao acender a
luz, meu amigo, lá estava ela ao olhar-me, com aqueles belos olhos! Sim, era
ela, Josefina, que me espreitava. O susto, em seguida, deu lugar a volúpia,
como os de corpos que se tocam, com cumplicidade. Tudo parecia real, seu corpo,
seu toque, seu hálito. Porém, ao abraçá-la, um estranho frio de seu corpo
emanava...
Ao acordar,
tudo parecia ter sido apenas sonho, mas algo havia naquilo que me fazia
discordar. A dúvida evadia minha alma: teria tudo sido apenas sonho? Estava eu
vivendo uma alucinação, daquelas que atormentavam tanto a alma? Foi quando a
resposta me veio à tona...
Ao visitar,
mais uma vez, o cemitério, procurei as origens daquele túmulo que tanto me
fazia pensar. E ao pegar um velho livro de registro, pude, finalmente,
comprovar, que ali jazia Josefina Conty, morta em 1931, em plena flor da idade,
em seus belos vinte anos. A verdade tinha vindo à tona, do modo mais pungente.
Sim, seu nome correspondia ao sonho que eu tivera anteriormente, aquele que
sonhara com um grande salão de baile.
Cheguei em
casa, nesse dia, embriagado. Ao abrir a porta de casa, senti um suave perfume
de flores. Perfume que exalava por toda a casa. Fui para o banheiro, lavar o
rosto. Olhei-me no espelho enquanto me banhava. Vi um pequeno pente ao meu
lado, sobre a pia. E ao olhar para o meu reflexo no espelho, vi o pente, por
trás de mim, levantar-se, à minha altura; olhei para trás... Você não vai
acreditar!, lá estava ela, novamente, desta vez em carne e osso, se penteando,
com aqueles belos olhos verdes à espreitar-me. Olhei para o espelho, novamente,
não via nada. Ela agarrou-me, beijou-me a boca; senti como se a vida se
esvaísse de mim, pouco a pouco. Ah!, aquela boca me tragava a vida...
- É! É uma
história e tanto! – disse-me o amigo esboçando dúvida, mas acima de tudo
curiosidade. E continuou a interrogar-me:
- E como se
desenrolou essa história?
- Ah! Ela
levou-me para o quarto. E quanto mais me beijava, com seu belo corpo nu, mas
sentia-me fraco... fraco... fraco... E após esse dia, todas as vezes que
voltava para casa, lá estava ela a esperar-me, com seu belo corpo, que a cada
dia mais me extasiava, num contínuo mundo de prazeres sem fim. E à olhos
vistos, meu amigo, cada vez mais me degradava... Ela tornou-se, para mim, como
um vício, que embora tornava a vida prazerosa, viver em sua companhia, cada vez
mais algo de mim tirava...
Porém, uma
noite, ao chegar em casa, feliz em poder desfrutar mais uma vez de sua
companhia, notei que ela não estava. Chamei-a, e, por mais que a chama-se, ela
não vinha. Fui então para o cemitério, em plena madrugada, dormi sobre sua
lápide fria, fria como seu belo corpo. Acordei-me com ela me olhando.
Acariciou-me os cabelos, e disse-me, que se continuasse me mataria. Ah, meu
amigo, cai em pranto, e de joelhos, e lhe supliquei que continuasse. Que nada
me importava, nem mesmo a vida, sem sua companhia...
- Bem,
parece-me ser a primeira vez que ouço uma história de fantasma que parece ser
agradável. Era ela, então, um belo fantasma?
- Sim, sim, do
tipo de mulher que qualquer homem desejaria. Era maravilhoso viver em sua
companhia. Todo dia não via a hora de chegar em casa. Porém, nem tudo é
perfeito!, meu amigo.
- Por quê?
- Porque
descobri que Josefina me sugava a vida, como um vampiro.
- Como um
vampiro?
- Sim, sim. E o que mais me entristece é que a
cada dia menos vida eu tenho para lhe dar...
Autor: Hyldon Bosco Ferreira e Silva
Agradecimentos ao amigo Hyldon Bosco Ferreira e Silva pelo conto e pela dica de postagem publicada ontem. Gostaria de indicar aos amigos e amigas os blogs nos quais o amigo Hyldon atua...deem uma conferida!!!
Blog Bornal
Inferno de Sade (+18)
Conheça o livro escrito pelo amigo Hyldon: Sexo, Perversões e Assassinatos no clube de autores;
Facebook do amigo = https://www.
Quando amanhecer, você já será um de nós...
Adoreei! O conto é realmente fascinante! Me lembrou um pouco sobre o demônio succubus, q usa artimanhas sexuais p sugar as energias de suas vítimas..
ResponderExcluirParabéns Hidon!
P.s.: Já virei fã do Inferno de Sade!
Hydon**
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