Barcelona, Espanha, 1912. Cerca de três anos após a "Semana Trágica", um boato na cidade dizia que várias crianças e bebês estavam desaparecendo, causando medo nas famílias. O prefeito da cidade, Portela Valladares, tentou acalmar a população dizendo que tudo não passava de boatos. Esse comunicado foi dado em 1911. Mas será que não havia um fundo de verdade em tais boatos?
Seja como for, o boato percorreu casas, ruas e praças. Não se falava em outra coisa e os pais dobraram os cuidados para com suas crianças. No final das contas, esse "boato" se mostraria mais verdadeiro do que se imaginava, expondo a crueldade e a hipocrisia de uma pessoa... Ou um grupo de pessoas.
No cair da tarde de 10 de fevereiro de 1912, Na Rua San Vincente, Teresita Guitart, cinco anos de idade, caminhava de mãos dadas com sua mãe, Ana, quando esta parou próximo ao portão de sua casa para conversar com uma vizinha. Ana largou a mão da pequena Teresita sem preocupação, pois ela já estava bem perto de casa. Mas a menina não dormiria em casa naquela noite. Quando o marido de Ana a viu sem a criança, perguntou pela criança. Desesperada, a mulher correu pela rua gritando por Teresita, mas já era tarde, não havia nenhum sinal dela.
O que aconteceu com Teresita foi que, ao invés de ir para sua casa, ela acabou se distraindo e seguiu direto pela rua abaixo, onde a garota foi atacada por uma mulher, que cobriu corpo da menina com um pano preto e desapareceu noite a fora.
Em Barcelona, não havia outro assunto além do desaparecimento de Teresita. Os jornais locais deram ênfase ao caso e os moradores passaram a acreditar ainda mais nos "boatos do bicho-papão". Mais de duas semanas se passariam. Todos os esforços policiais para descobrir o paradeiro da menina se mostravam inúteis. Por incrível que pareça, a ajuda no caso viria de outra pessoa, nada mais, nada menos do que de uma vizinha faladeira.
Claudia Elias
Em 17 de fevereiro, sete dias após o desaparecimento da pequena Teresita, Claudia Elias, moradora da Rua Oeste foi olhar pela janela, quando viu algo que chamou sua atenção: Na casa vizinha, olhando pela janela do porão com um olhar perdido, estava uma criança muito nova e com os cabelos raspados. Claudia estranhou a situação, pois nunca tinha visto aquela criança pelas redondezas e havia somente duas crianças na casa vizinha, uma menina e um menino, esse último, aliás, estava no campo tratando de uma doença. A mulher não tinha certeza se era um menino ou menina, mas resolveu saber o que se passava e quem era aquela criança. Ela bateu palmas na janela da vizinha, que a atendeu. Claudia perguntou se a criança era sua filha, mas a mulher agiu de maneira estranha. Não disse uma palavra, apenas fechou as janelas. Claudia decidiu levar suas suspeitas até a polícia, informando o ocorrido ao agente José Asens. Esse, por sua vez, levou a informações para seu superior, o Brigadeiro Ribot.
Cerca de 10 dias depois, na manhã de 27 de fevereiro de 1912, o Brigadeiro Ribot e mais dois agentes foram até o número 29 da Rua Oeste. A dona da casa havia acabado de acordar estava no quintal.
Os policiais abordaram a dona da casa dizendo que teriam recebido denuncia de que a mesma estava criando galinhas no seu porão e que precisavam verificar se as informações eram de fato verídicas.
Ribot e os outros dois policiais entraram na casa. No corredor, encontraram duas meninas. A anfitriã protestou alegando que eles precisavam de um mandado para entrar, mas já era tarde. Ribot se aproximou da criança menor, de cabelos raspados e perguntou-lhe o nome. A criança disse que se chamava Felicidade. Ribot perguntou se ela não se chamava Teresita. A menina hesitou e disse: "Aqui eu me chamo Felicidade". Ribot perguntou a mulher quem era aquela criança e ela disse que não sabia, acrescentando que a havia encontrado no dia anterior, faminta e com frio na Ronda de Sant Pau, então, em um gesto de caridade, a levou para casa. A outra menina se chamava Angelita.
A mulher foi levada para a sede de polícia, na Rua Sepulveda, cujo chefe era José Millám Astray. A mulher foi identificada como Enriqueta Martí Ripollés, 43 anos e com um histórico nada agradável: Corrupção de menores.
Teresita Guitard é fotografada com sua família e com uma equipe de policiais. A menina teve o nome trocado por sua sequestradora e foi salva graças às suspeitas de uma vizinha |
Enriqueta Martí sendo presa |
Quem foi Enriqueta Martí?
Enriqueta Martí i Ripollés nasceu em San Feliu de Llobregat, no ano de 1868. Bem pouco se sabe sobre sua juventude, mas sabe-se que veio para Barcelona ainda muito moça, com menos de 19 anos de idade. Na cidade, trabalhou por breves períodos em várias casas de família, cuidando de crianças, mas viu que poderia usar sua beleza para ganhar mais dinheiro e se tornou prostituta, fazendo programas em inúmeros bordéis baratos. Na prostituição, ela conheceu as mais estranhas perversões sexuais, tendo contato com todo tipo de depravação. Conseguiu guardar dinheiro o suficiente para arrumar um lugar pra ficar.
Vendo que a prostituição não lhe renderia muito, ela decidiu se casar com um pintor fracassado e incompreendido, de nome Joan Pujaló, um pobre coitado que gostava de comer alpiste, pois leu isso em um livro sobre naturismo. O casamento dos dois durou 10 anos, durante esse tempo, ele se separaram e voltaram 6 vezes. Parecia que Enriqueta não havia desacostumado com a vida de prostituta, traindo Joan com vários homens diferentes. Mais tarde, o pintor diria: "Enriqueta gosta muito de homens e está acostumada a frequentar locais para onde eu não gosto de ir".
Enriqueta abriu seu próprio bordel em 1909, mas não era qualquer bordel. O local era destinado à prostituição infantil, sendo frequentado por ricos depravados de toda Barcelona. Enriqueta usava suas habilidades em lidar com crianças para atrair menores pobres, para seu bordel. Uma vez lá, as crianças perdiam suas identidades eram forçadas a vender seus corpos à qualquer pervertido que aparecesse.
Em 1909, porém, estourou uma revolução conhecida como "Semana Trágica", onde anarquistas queimaram cerca de 40 templos religiosos. A policia realizava rondas e acabou tomando conhecimento do que acontecia no bordel de Enriqueta situado na estrada Minerva. Enriqueta foi presa junto com um cliente, pertencente à uma família da elite de Barcelona. Enriqueta foi processada, mas os arquivos dos processos se perderam misteriosamente. Ela então permaneceu solta, dessa vez, ela iria praticar todo tipo de crime.
Conforme a policia descobriria mais tarde, Enriqueta passou a praticar feitiçaria e voltou a sequestrar crianças. Dessa vez, porém, as crianças seriam, além de aliciadas, assassinadas e seus corpos seriam usados como ingredientes para remédios, poções e elixires.
Sequestros
Enriqueta mudou-se para o bairro de Raval, um local pobre onde grande parte da população morria devido à miséria e falta de saneamento. Ela começou a sequestrar crianças entre três e 12 anos de idade. Uma vez que conseguiu atrair algumas crianças, Enriqueta procedeu como antes de sua prisão, obrigando-as a se prostituirem. Mas dessa vez, ela escolheria as menores para serem assassinadas. Dessas crianças se usava os cabelos, sangue, ossos e gordura corporal para se criar elixires e cremes faciais. Por mais incrível que possa parecer, o produto final era vendido à damas da alta sociedade de Barcelona. Acredita-se que pessoas sabiam a procedência dos produtos, mesmo assim aceitaram comprá-los. As crianças sequestradas por Enriqueta eram paupérrimas e na mente dessas damas, podiam ser tratadas como pedaços de lixo. Enriqueta também acreditava que o sangue dos meninos era um ótimo elixir para ter vida longa e um excelente hidratante corporal.
Foi nessa época que Enriqueta Marti desenvolveu uma vida dupla: Durante o dia, suja e vestindo farrapos, mendigava pelas ruas e entrava na fila do pão dos pobres, mesmo tendo uma vida confortável e uma boa condição financeira. O disfarce servia, entre outras coisas, para identificar e sequestrar crianças miseráveis. Às vezes ela persuadia as crianças mais jovens, menino ou menina, a se passarem por seus filhos nos abrigos para pobres. Essas crianças ou seriam mortas ou prostituídas. Durante a noite, Enriqueta mostrava sua nova face. Ela se vestia com zelo, quase como uma marquesa, usando roupas, jóias e perucas caras. Frequentava, assim, locais onde a elite de Barcelona se encontrava, principalmente o El Liceu, onde assistia inúmeras peças e óperas. Na verdade, o El Liceu foi o local onde Enriqueta encontrou a maior parte de sua clientela: os cavalheiros para a prostituição infantil e as damas para a venda de seus cosméticos ordinários. Enriqueta era dona de vários imóveis, incluindo uma residência usada para prender e matar crianças. Nesse local eram feitos os preparados e cosméticos. Um segundo local servia de moradia para ela e para seus "filhos". Em um terceiro, talvez o mais luxuoso deles, funcionava um bordel, onde pessoas ricas, homens de negócios, políticos e até mesmo artistas participavam de jogos lascivos envolvendo todo tipo de perversão, até mesmo a violência.
As crianças desaparecidas eram sempre de famílias pobres, fazendo com que pouca atenção fosse dada a elas. A opinião das pessoas era de que os casos tinham ligação, ou seja, alguém estava sequestrando crianças. O rumor dos misteriosos desaparecimentos começou a correr pela cidade. O prefeito fez um pronunciamento de que nenhuma criança estava sequestrada ou fora morta, mas isso se mostraria uma inverdade.
Foi somente após a menina Teresita Guitart ser sequestrada e encontrada na casa de Enriqueta, é que todos os seus planos e atos macabros foram descobertos. Quando perguntaram sobre Pepito, o seu alegado filho do sexo masculino, Enriqueta disse que ele estava no campo para melhorar de uma doença.
Teresita e Angelita são ouvidas
Então quem era Angelita? Semanas depois, Enriqueta reconheceu que Angelita não era sua filha, mas sim sua sobrinha, sequestrada logo após o parto. Enriqueta fez com que a irmã de seu marido, Juan, acreditasse que o bebê nascera morto.
Os depoimentos de algumas testemunhas foram importantes para se entender parte da personalidade de Enriqueta . Ela não era perturbada, também não cometera crimes por motivos sexuais. O que a levou a matar foi a pura ganância. Existem assassinos que matam por dinheiro, são os chamados assassinos golpistas ou assassinos por conforto. Enriqueta, porém, ganha destaque nesse grupo, pois matava crianças (a maioria dos assassinos golpistas matam cônjuges, ganhando dinheiro do seguro de vida) e vendiam partes de seus corpos como produtos estéticos, além da exploração sexual infantil.
Porém, os depoimentos mais importantes foram os de Angelita e Teresita. Teresita afirmou que a mulher, assim que chegou à casa na Rua Ocidente, disse que ela teria coceira na cabeça, por isso precisava ter os cabelos raspados. Enriqueta disse também à menina que ela não teria mais família, que agora deveria chamá-la de mãe e seu nome seria Felicidade. Assim a criança deveria agir quando as duas fossem para a rua. Entretanto, Teresita nunca chegou, sequer, a sair para a varanda, pois seria punida se assim fizesse. A criança era mal alimentada, comendo somente pão e batatas. Sua única distração era brincar com Angelita. Às vezes as duas se assustavam por causa de ruídos estranhos na casa. Teresita nunca chegou a ver Pepito. Um dia, enquanto Martí estava fora, as duas crianças resolveram se aventurar por entre os quartos proibidos da casa. Angelita esbarrou em algo, um saco. Mesmo com a pouca luz ela pôde ver seu conteúdo: Roupas infantis sujas de sangue, além de uma grande faca, também suja de sangue. A criança gritou de horror.
As declarações de Angelita foram ainda mais surpreendentes. Ela revelou em detalhes tudo o que sabia sobre Enriqueta, desde sua vida dupla até a exploração sexual e a vida leviana que levava. Angelita não somente conheceu Pepito, um menino louro de cinco anos que costumava brincar com ela, como também presenciou seu assassinato. Segundo a menina, ela estava espiando Enriqueta, enquanto a mulher levava Pepito até a mesa de jantar. Enriqueta então esfaqueou a criança, matando-a. Angelita correu desesperada e deitou-se, fingindo que dormia.
Os depoimentos de Teresita e Angelita impressionaram a sociedade de Barcelona. Esforços populares foram feitos para garantir o sustento das duas. Até o Teatro Tivoli entrou na jogada, realizando apresentação em honra das duas meninas.
Investigações
Uma equipe de investigadores foi mandada para coletar evidências na casa da Rua Oeste. O local era decorado com requinte. Móveis, luminárias, cortinas, poltronas e sofás avaliados em uma fortuna. Porém toda essa ostentação de riqueza era fachada para descobertas terríveis. Em um armário, foram encontrados os pertences de três crianças, também dois pares de sapatos infantis, meias e combinações para meninas. Eles estavam junto de vestidos finos e perucas cacheadas caras, usadas nas saídas noturnas de Enriqueta. Um maço de cartas chamou a atenção. Elas estavam escritas em códigos, cheias de letras maiúsculas e assinaturas. Ela parecia uma lista de nomes, o que daria muito o que falar.
Perito revira um saco de lona. As descobertas na casa de Enriqueta trariam um tom bizarro ao caso. |
Na cozinha, um saco com roupas ensanguentadas condizendo com a história das meninas, foi encontrado, assim como a faca empapada em sangue. Em outro cômodo, um saco de lona, aparentemente com roupas velhas foi encontrado. Uma olhada mais apurada revelou seu conteúdo: Ossos de crianças, cerca de trinta partes de esqueletos infantis. Entre eles costelas, clavículas, rótulas. Haviam sinais de que esses ossos foram chamuscados, uma aparente exposição ao fogo. De acordo com médicos da época, isso poderia ter sido uma espécie de experimento anatômico, mas seria mais provável que essas marcas fizessem parte do processo de extração de carne e gordura, ao qual as crianças foram expostas. Mais tarde, Enriqueta afirmaria que os ossos serviriam para estudos de anatomia. Próximo a poções, um caderno antigo contendo receitas estranhas, um caderno grande com receitas de curandeirismo para doenças, com letras bem feitas e escritas em catalão refinado.
Em um gabinete, foram encontrados chumaços de cabelo. Possivelmente de uma menina com cerca de três anos de idade. A investigação na casa macabra terminou após a descoberta de cerca de 50 garrafas de vidro cheias de sangue coagulado e gordura corporal. O restante das substâncias e objetos encontrados foi levado para analise. As descobertas viraram assunto em Barcelona, e os jornais davam ênfase aos crimes de Enriqueta. Agora a mulher não era uma simples sequestradora, mas sim uma assassina de crianças.
Mais testemunhas foram ouvidas, entre elas uma pobre mulher, de nome Manuela Lancho Fuster, que havia chegado de Alcañiz procurando emprego. No dia de sua chegada, com seu filho no colo, ela sentiu-se fraca e sentou-se um pouco em frente a uma casa. Enriqueta logo apareceu e se ofereceu para amamentar a criança. Manuela recusou a proposta, alegando que somente ela poderia amamentar. Enriqueta, então, mudou de tática, oferecendo um copo de leite à jovem mãe. Ela aceitou o favor e as duas foram até uma venda próxima. Martí recomendou um pão para acompanhar e se ofereceu para ir até a padaria buscar. Ela levou a criança, com a desculpa de dar um passeio, e nunca mais voltou. Quatro anos se passaram até que a mãe infeliz soube dos sequestros em Barcelona e reconheceu a mulher que levou seu filho. Só Deus e Enriqueta sabem o que aconteceu com a criança.
Dada as evidencias esmagadoras, Não restou à Enriqueta admitir que era feiticeira e que vendia seus produtos para damas da alta sociedade. “Fiz remédios usando certas partes de cadáver humano” e levantando o tom de voz prosseguiu, “Se vocês cavaram o chão debaixo da minha casa, irão encontrara algo. Se eu for pra forca, quero levar meus cúmplices junto comigo”.
As residências pertencentes a Enriqueta foram investigadas uma a uma minuciosamente. A mulher vinha comprando casas e apartamentos à cerca de 10 anos. Em um apartamento na rua Picálques, foram descobertos vários ossos humanos, escondidos dentro de um buraco atrás de uma parede falsa. Falanges e metacarpos de crianças. Um jornal da época publicou que com os ossos, foi encontrada uma meia remendada infantil. Provavelmente pertencente à uma das crianças pobres mortas por Enriqueta. Em uma casa na Rua Tallers foram encontrados ossos e tufos de cabelos, pertencentes à duas meninas louras. Em outra casa, localizada em Sant Feliu de Llobregat, apareceram livros de receitas e mais garrafas contendo substâncias estranhas. E finalmente, no quintal de uma casa na rua Jocs Florals de Sants, um crânio humano foi encontrado, uma criança de cerca de três anos de idade, ainda coberto com um pouco de pele e cabelos, além de outros ossos infantis, pertencentes à crianças de três a oito anos. Outros corpos de crianças foram retirados do chão. Pelo menos dez crianças morreram nas mãos de Enriqueta. Millán Astray, chefe de policia, definiu Enriqueta como “Uma curandeira neurótica, uma velha bruxa que teria sido queimada em Zocodover”.
Abaixo podemos ver alguns dos cadáveres infantis (ou o que restou deles) vítimas de Enriqueta, fotografados pela polícia.
Nunez de Padro, escritor e advogado, especulou a origem das crenças de Enriqueta: “Em uma dessas orgias pervertidas, uma criança acabou morrendo e Enriqueta decidiu extrair o sangue e até a medula óssea de suas vítimas”. Em 1912, a tuberculose era uma doença mortal e muitas pessoas acreditavam que o sangue humano seria o melhor remédio contra a “Peste Branca”, principalmente o sangue extraído do peito de crianças gordas. Dois anos antes, ocorreu um crime estarrecedor, conhecido como o “Crime de Gádon”, em que um curador, Francisco Leone, assassinou uma criança de sete anos, Bernardo Gonzalez, para seu patrão, o rico Francisco Ortega, que sofria de doença pulmonar. A intenção de Francisco era ingerir sangue humano.
Uma lista dos possíveis clientes de Enriqueta foi feita, mas nada se sabia ao certo. Os jornais, para evitarem linchamentos e retaliações publicaram nomes fictícios, ou nem isso, apenas tratavam os suspeitos como “clientes que de nada sabiam”. Na lista feita por Enriqueta, encontrada na Rua Oeste, estavam nomes de médicos, mulheres ricas, artistas, advogados, um escritor e tantas outras personalidades públicas. O Jornal ABC alegou que os nomes contidos na lista eram de pessoas boas, que haviam ajudado Enriqueta enquanto ela mendigava pelas ruas. Elas teriam sido vítimas, teriam sido enganadas. É lógico que as evidências apontavam para o outro lado. A própria Enriqueta disse: “Meus clientes eram monstros, talvez piores que eu...”
Reina Amalia
Enriqueta foi presa, enviada para a prisão Reina Amalia. Do lado de fora, o povo tomou conhecimento de suas duas tentativas frustradas de suicídio cortando o pulso com um talher de madeira. Isso deixou as pessoas indignadas, pois todos queriam ver a feiticeira morrer no garrote vil. As autoridades tiveram medo de que a morte de Martí levasse Barcelona de volta aos motins presenciados na “Semana Trágica”.
Prisão de Reina Amalia, Barcelona |
Três mulheres, consideradas de bom comportamento, foram colocadas na mesma cela de Enriqueta. Elas receberam a missão de não deixar Martí tirar a vida, dormindo em camas localizadas bem de frente a de Enriqueta. Elas podiam descobrir o rosto e os pulsos de Martí, assim garantiriam que nenhuma tentativa de tirar a própria vida seria feita.
O interesse do público pelo caso começou a declinar, mas as descobertas macabras não paravam de ser feitas. O jornalista Luis Antón de Olmet, que acompanhou o caso com certa paixão afirmou que esse foi “um dos crimes mais terríveis e cruéis de que se tem notícia, movido pelo fanatismo demente de matar crianças de 10 anos para se extrair gordura e fazer pomadas, em um caso monstruoso, sem precedentes, que será discutido por anos”. Apesar dessa opinião, cada vez menos páginas de jornais eram destinadas aos crimes de Martí. Para afastar ainda mais o interesse do público, em meados de abril daquele mesmo ano, um transatlântico entrou para a história ao bater em um iceberg, o Titanic. Todo o mundo se voltou para o desastre ocorrido em alto-mar. As notícias do acidente afastaram, ainda mais, o interesse público pelas notícias da “Vampira de Barcelona”.
Algumas das vítimas e possíveis vítimas de Enriqueta Martí.
Uma menina de 2 meses, sequestrada em 1908. Tirada dos braços de sua mãe, Manuela Lancho Fuster;
Um menino não identificado, de cerca de dois anos. Seus restos mortais foram encontrados em uma das residências de Martí;
Alexander, um menino alegado filho de Juan Pujaló e Enriqueta;
Um menino de cerca de 6 anos, visto acompanhando Enriqueta enquanto ela comprava roupas e alimentos. Suas vestes manchadas de sangue foram encontradas na casa de Enriqueta. Ele não foi identificado;
Um menino apelidado de Juanito, morto na casa de Enriqueta;
Pepito, um menino louro de cinco anos de idade, morto entre 24 e 27 de fevereiro daquele ano. Segundo Enriqueta, Pepito estava fora, devido uma doença;
Benedicta Messeguer, filha de Francisca Pujaló, irmã de Joan Pujaló, ou seja, sobrinha de Enriqueta;
Benito Claramunt, filho de Maria Pujaló, outra irmã de Joan Pujaló;
Antonio Pujaló, outro sobrinho de Enriqueta;
Angelita (sequestro), suposta filha de Maria Pujaló;
Teresita Guitart, última vítima de sequestro, milagrosamente salva por uma vizinha mexeriqueira;
Outras quatro meninas: Maria Ortega, Angelita Cuevas, Maria del Val e Maria Enriqueta Blanch.
A morte de Enriqueta Martí
Enriqueta Martí, com sua mente paranoica foi capaz de controlar seu corpo e agir sobre si mesmo com ações auto-punitiva em sua detenção, durante o interrogatório e na cadeia. Enriqueta provocou vômitos e desmaios, o que parecia uma tentativa de se aproximar de sua morte. Na cadeia, 48 horas após seu ingresso, ela cortou o pulso com uma colher de madeira... Fracassou. Mudou de táticas duas semanas depois, na madrugada entre 16 e 17 de março, quando tentou se estrangular com sua trança, o que também fracassou.
Enriqueta Martí encontrou com a morte mais de um ano depois, em 23 de maio de 1913. Ela foi linchada por outras presas no pátio da prisão. Parece que nem todo mundo esqueceu seus crimes. Porém o assassinato da “Vampira de Barcelona” prejudicou o andamento das investigações, evitando que muitos de seus clientes fossem descobertos e punidos. Enriqueta Martí, a mulher que assassinou pelo menos uma dezena de crianças, acabou se tornando a personificação do mal encarnado. Corruptora e exploradora de menores, sequestradora, prostituta, cafetina, feiticeira e assassina. Essas foram só algumas das atividades da mulher que entrou para sempre no folclore e na lista negra dos espanhóis. Alguns dos imóveis que pertenceram a Enriqueta resistem ao tempo. Dizem que muitos são mal-assombrados, mas isso já é outra história.
Fonte: Famigerados.
Quando amanhecer, você já será um de nós...
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Cara que história!!!! Achei fascinante... Deveria virar filme!!! Parabens ganho horas aki no seu blog ;)
ResponderExcluirSeria um belo enredo para filme de terror neah?...
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